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sábado, 11 de junho de 2016

Mural das Indiscrições VI

Flexibility And Strenght, Nyoman Masriadi, 2003



Subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos
Nelson Rodrigues



Tudo que existe foi pensado mas, nem tudo que é pensado existe.


Se no capitalismo tudo é mercadoria e deve ser explicado pela lógica do mercado, o que é religião?


No Brasil, dois terços da população tem como ancestral uma mãe índia ou negra. O restante mamou no peito de uma ou outra.


Enquanto nossa democracia não integrar digna e verdadeiramente o negro e o índio na cidadania, a nós brancos só resta o papel de filhos da puta.


De tanto a televisão nos massacrar com programas “mundo cão” quando na rua alguém me aborda com um por favor logo levanto os braços pensando tratar-se de um assaltante muito educado.


Conheço três brasis: o capitalista, o socialista e o selvagem. Na nossa pátria impossível, o terceiro é maioria e reina absoluta.


A imbecilidade é única coisa eterna na vida.


Nos tempos atuais, Deus dá o frio conforme o delator.


Se se olhar direito, veremos que toda tentação acontece a um passo do paraíso.


Uma mentira inevitavelmente puxa outra.


Aquilo que evitamos, que nunca é falado, trazemos no corpo marcado.


O mundo está cheio de indivíduos cujo propósito é comer, fazer merda e arrotar um ego inflado por gazes.


O padrão da família brasileira é uma mãe e filhos de diversos pais irresponsáveis.


Sempre esqueço o que procuro. Mas ao encontrar me lembro.


Existem amores para todos os gostos. E para quem não gosta também.


Jamais desejei do amor somente o mel. Pois antes que pensasse surgia o fel.


De tanto pensar em ti, lembro que esqueço.




sábado, 30 de abril de 2016

Fora de Contexto


The Listening Room, Rene Magritte, 1952




Todo o meu sangue raiva por asas.
          Alberto Caeiros, personagem poeta


Em 1964, com os militares. Em 2016, com os bandidos… No futuro, em sua permanente contrarrevolução, com quem contará as classes burguesas brasileiras?
          Florestan Fernandes, sociólogo (se vivo fosse)


A pior deformidade é a estupidez.
          Olivia Godfrey, personagem na série Hemlock Grove


Não são as notícias que fazem um jornal e sim o jornal que faz as notícias.
          Umberto Eco, escritor


Pessoas se agarram ao ódio porque temem que quando o ódio acabar tenham que lidar com a sua própria dor.
          Provérbio Chinês


O Brasil é um país atrasado, sempre foi.
          Caio Prado Júnior, historiador


Porque havemos de ser industriais se a indústria estrangeira nos fornece melhor e mais barato?
          Sampaio Bruno, historiador


Os grandes roubos são legalizados.
          Carlos Boyero, jornalista


O patriotismo é o último refúgio do canalha.
          Samuel Jonhson, escritor


Nossa sociedade será legitimamente humana somente quando ninguém seja tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que tenha que se vender. 
          Rosseau, filósofo


Deus e Pátria são um time imbatível; eles quebram todos os recordes de opressão e derramamento de sangue.
          Luis Buñuel, cineasta


Política é a arte de administrar a desconfiança.
          Ivan Krastev, filósofo


Reservo minhas lágrimas para os que nascem e o sorriso para os que morrem.
          Orfeu, poeta lendário




sábado, 9 de abril de 2016

Pais Fundadores

Mapa da Terra Brasilis 
de Pedro Reinel e Lopo Homem, 1519



A consolidação do Brasil é obra dos brasilíndios ou mamelucos.
Darcy Ribeiro


Aventureiro, parte de Portugal em busca da Ilha Paraíso. Náufrago nas costas brasilis, é encontrado numa praia por nativos. Por algum engenho ou pelos demais no corpo, desistem de saboreá-lo ao ponto. Adaptado, logo se junta a uma filha de cacique com quem tem um bando de filhos e filhas. Com as irmãs dela, outro tanto. E à medida que se enturma, mais rebentos produz. Quando pensa que não, tem um exército de filhos e cunhados, plenamente estabelecido no litoral, bem-sucedido comerciante de pau-de-tinta com os europeus.

Eis o resumo da lenda que nos fornece o pai dos paulistas, João Ramalho (1493-1580) e o pai dos baianos, Diogo Alvares Correa (1490-1557). A primeira matriz da brasilidade. A que definirá os mamelucos ou caboclos. Ramalho no sudeste e Diogo Alvares no nordeste, foram peças fundamentais nos primeiros anos da colonização. Viabilizaram uma ponte entre os indígenas (conhecedores da terra e seus recursos) e os portugueses que aqui buscavam, não só sobreviver mas, prosperar. Peças chaves na formação de alianças que, para o bem e para o mal, significaram os passos iniciais na direção de uma unidade nacional sob o manto da língua nheengatu. Somente após a chegada dos escravos vindos da África e com o extermínio sistemático dos nativos é que a língua portuguesa se impôs.

João Ramalho é descrito como analfabeto e violento apresador de índios, em conflito constante com os jesuítas que não o tinham em boa conta – dado seus costumes dissolutos, nada ortodoxos, imorais até. Descreviam-no como “homem por graves crimes infame, atualmente excomungado, rico de terra mas infame nos vícios, amancebado público por quase quarenta anos”. Dizem que ele andava nu até em solenidades. Imaginem os inacianos imbuídos de um projeto de civilização e a prática do escravismo levada a cabo por Ramalho… Eram duas visões que se digladiavam. Quem o via com outros olhos era o padre Manoel da Nóbrega. Alegava que Ramalho podia contribuir com catequização maciça dos índios. Acabou por convencê-lo a legalizar, canonicamente, seu ajuntamento com Bartira (batizada Isabel), filha do cacique Tibiriçá, da tribo tupiniquim. Séculos mais tarde, ramalhistas militantes buscaram forjar outra imagem. Porém, em parecer para o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, um grupo liderado por Teodoro Sampaio atesta, em 1902, que o alcaide-mor da vila de Santo André, tendo por base vários documentos, era mesmo analfabeto, afinal não sabia assinar o próprio nome uma vez que a grafia variava muito de um pra outro, sugerindo assinaturas feitas por pessoas diferentes.

Quanto ao Diogo Alvares, aquele que ganhou o apelido Caramuru, dizem uns que foi encontrado coberto de limo e musgo tal qual uma moreia e que valeu-se de um bacamarte para estarrecer a indiada que o comparou ao trovão. Outros, que foi abandonado com um mosquete e um barril de pólvora para, caso sobrevivesse, travar contato com os indígenas. Em qualquer uma das versões, foi um verdadeiro choque para os índios tomar contato com a tecnologia que ele dispunha. O certo é que, Diogo Alvares foi alçado à condição de protetor supremo daquelas paragens, o que aumentou em muito o poderio da tribo que habitava a foz do Rio Vermelho, na São Salvador da Bahia. Amigos dos franceses, com que comerciava às largas, levou sua amada Paraguaçu, filha do cacique Taparica, para a França onde foi batizada em 30 de junho de 1528 com o nome de Catarina do Brasil. Voltou guarnecido de armas o que lhe garantiu ainda mais a supremacia local e o comando dos Tupinambás na guerra contra os Tapuias. A Companhia de Jesus deve-lhe muito pelos árduos caminhos da evangelização e o adestramento da língua tupi que ele dominava e praticava em família. Consta que sabia escrever a língua dos índios o que permitia aos jesuítas confiar-lhe sermões do Novo e Velho Testamento, mandamentos, pecados mortais, artigos da Fé e obras de misericórdia, etc., para serem vertidos em língua da terra.

Estes pais fundadores entraram para a História como oriundos das classes menos afortunadas de Portugal, dado que os a fidalguia lusitana queria mesmo era ir para a Índia enquanto o Brasil ficava reservado à escória indesejada da sociedade a quem não cabia escolha. Degredados ou desertores, os que aqui chegavam, vinham com motivações comuns, sonhos e esperanças semelhantes: queriam viver uma aventura mas, sobretudo, buscar uma vida melhor, longe da miséria, da fome e do desemparo. Afinal, é para isto que se inventa o paraíso.  


sábado, 2 de abril de 2016

As Almas do Batalhão


188 anos da Batalha do Jenipapo 
Ilustração de Bernardo Aurélio, 2011


Todo sangue derramado é santo


Às margens do Riacho Jenipapo, no município de Campo Maior, sertão do Piauí, uma série de montículos de pedras indica o local onde jazem centenas de desconhecidos corpos. Uma cruz imensa e milhares de ex-votos fazem daquele cemitério um local de peregrinação, um centro de culto da religiosidade popular. 

A maioria dos visitantes vem em busca de milagres. E os atribuídos às almas dos que ali estão enterrados são muitos, todos devidamente catalogados pelo padre paroquiano. Tais documentos aguardam apenas que se cumpra alguns conformes para finalmente seguirem para o Vaticano em busca de reconhecimento. Poucos são os que chegam ali para prestar homenagem aos que tombaram numa das mais doloridas batalhas travadas em prol da Independência do Brasil.

No dia 13 de março de 1823, bem ali, naquelas margens secas, o capitão João José da Cunha Fidié, nomeado Governador das Armas da Província do Piauí pelo Rei D. João VI, com a incumbência de garantir a permanência do domínio português sobre as províncias do norte brasileiro. No comando de mais de mil soldados, naquele dia, das nove da manhã às duas da tarde, passou pelo fio da espada de uma bem treinada cavalaria, uma massa de piauienses, maranhenses e cearenses, especialmente vaqueiros e roceiros agregados de fazendeiros lusitanos.

Armados de foices e facões e de uma extraordinária vontade de conquistar o próprio chão – um lugar para viver e trabalhar – partiram para o combate debaixo de enorme desvantagem bélica. Cinco horas de luta, cinco horas de uma batalha que acabou por consolidar a independência naquela região. É que a vitória de Fidié soou como uma derrota e nada mais seu exército pode fazer para conseguir se impor daí em diante.

A Batalha do Jenipapo gerou uma onda de indignação, inflamou ainda mais a revolta, gentes e mais gentes se juntaram aos combatentes em nome da tão sonhada liberdade. Sitiado em Caxias, no Maranhão, o comandante português finalmente capitulou diante da tenacidade do anônimo mestiço brasileiro.

Ao contrário do que muita gente pensa e diz, o suposto grito às margens do riacho Ipiranga pouco contribuiu para o fim do domínio estrangeiro. Muita água teve que rolar debaixo da ponte. A Independência do Brasil, alimentada desde tempos, foi penosa e custou muito sangue. Quantos fuzilados, enforcados, esquartejados…

Levado para Oeiras, Fidié permaneceu prisioneiro por oito meses. Depois foi enviado à Bahia, e logo conduzido ao Rio de Janeiro onde ficou confinado na Fortaleza de São Francisco Xavier na Ilha de Villegagnon. Pedro I lhe concedeu a liberdade, permitindo-lhe que regressasse a Portugal onde acabou sendo nomeado primeiro comandante do Real Colégio Militar para reformar-se, em 1854, no porto de tenente-coronel.

E assim tem sido: aos algozes, o bônus; às vítimas, o ônus. Finalmente, duas coisas sobrevêm: a) não há nenhuma evidência de que os verdugos tenham remorso ou sejam assombrados por fantasmas; e b) um ser humano sozinho, em posição de destaque, apenas convalida a injustiça.  


sábado, 26 de março de 2016

Acéfalos


Google Imagens



Além dos fantasmas que nós mesmos criamos, por ignorância, carência ou insegurança, alimentamos alguns que nos foram importados. Destes, muitos foram destruídos, substituídos ou mesmo adaptados. Porém, existem alguns que teimam em permanecer no nosso imaginário, obedientes à velha maldição, resistentes a toda e qualquer mudança, resistentes até mesmo ao nosso cordial e conciliador sincretismo.

Temos visto manifestações de uma turba copiosa de despropósitos, plena de ressentimentos, espumante de ódio, abundante de desinteligências, se batendo na defesa de tempo pretérito retrógrado, sanguinário, contraditório e incompatível com os sonhos factíveis da imensa maioria da população brasileira. O mantra que entoam com garbo e empenho diz tão somente que o progresso tem dono e que a ordem só vale para o outro. Pisoteiam nossa perspectiva de emprego decente, transporte porreta e desafogado, casa, educação e saúde universal de qualidade, viajar de avião, poder comprar besteiras e porcarias nas festas comemorativas e participar das novidades tecnológicas. Em decorrência, abominam um projeto de governo que consiga controlar a ganância, a usura, o individualismo voluntarista e os imprevistos, truques e blefes do mercado financeiro – esse cassino de chacrinhas.

Mas, infelizmente, a China não é aqui.

Vemos que a gigantesca e nefasta influência de uma meia dúzia que detém o capital da informação, seculares arrendatários do nosso chão e das nossas almas para a rapinagem multinacional, adoradores de dividendos, tem nos incutido a ideia de que a melhor posição é de joelhos. Só assim esta aristocracia de araque pode continuar encastelada em ilhas luxuriantes, usufrutuária de reservas ecológicas, direcionada a manter status conseguido em tempos sombrios, manipuladora da história em proveito próprio, justificada na presunção de que apenas a tal meritocracia é capaz de promover o progresso mesmo a realidade nos mostrando que o tão incensado mérito, 99% decorre de herança, fruto de conluio escabroso, falsificação, roubo, furto, sonegação e fraude.

Sob a asquerosa baba destilada dos lábios lustrosos de seus feitores fiéis, assumidos propagandistas de um projeto contrário a emancipação do ser humano, fomos colocados diante de um impasse: Ou aceitamos o projeto imperial colonialista, ou seremos bombardeados, sem trégua, pela distorção da realidade, pelo poder de forjar culpas, fomentar baixa autoestima e conjurar ódio para dentro dos nossos corações. E isto de comum acordo com corporações de deslumbrados funcionários públicos que operam o esfacelamento do Estado em nome de uma autonomia para fazer o que bem entenderem, com todas as armas do mundo, sem ter que dar satisfação a seu ninguém.

Então, qual a voz que nos há de falar e que nos dará força e sentido ao bom senso? Certamente não aquela que, canastrona, evoca a Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, o fantasma que insiste em disseminar trevas no nosso cotidiano. Este monstro acéfalo, de bafo pestilento vaporando do seu ex-pescoço, tem assombrado nossas ruas, nossos ambientes de trabalho, nossas reuniões familiares; espalhado dissidia, desconfiança e medo; louvando um futuro carcomido e de funestos hábitos… Tudo na mais genuína civilidade, sem que algum palavrão seja proferido. Afinal, no universo dos acéfalos, proclamar, diante do mundo, que uma mulher, mãe e avó, eleita democraticamente, vá tomar naquele lugar é perfeita e legalmente admissível mas, ai de quem, neste processo, devolver um sonoro, familiar e arretado porra.

Em face ao exposto, não vejo alternativa senão na formação de uma liga de bruxos, feiticeiros e magos de todos as cores, sexo e credo, capazes de encetarem uma jornada em busca da cabeça deste horripilante personagem. Grita a profecia que somente quando a cabeça for unida ao corpo e cumpridos os devidos rituais de sepultamento em cova profunda, nós, o povo, encontraremos a serenidade necessária para a labuta diária. Se esta monstruosa criatura permanecer insepulta, continuaremos a assistir mais e mais estripulias, enredados em novelas dedicadas a nos emparedar e impedir que se cumpra a função precípua do terror, qual seja, disciplinar as malcriadas criancinhas.


sábado, 23 de janeiro de 2016

Mural das Indiscrições V


La Máscara Mágica, Carlos Merida, 1969



Escrever é uma experiência e não conhecimento do mundo
Ricardo Piglia





A gente nunca é o que nasceu pra ser.


Por que a seta do tempo só nos mostra adiante? Aguentarias cometer o mesmo erro duas vezes?


Desistir do suicídio, encontrar uma dieta.


Cuidado com a tua desconfiança. Se te alcançares, será tarde demais: estarás sozinho.


Pouco a comemorar… Mas não morrerei de desesperança.


Viver sem que alguma coisa se espere de nós, impossível.


Devemos seguir, cada qual, seu próprio caminho… De mãos dadas.


O pudor é excitante.


Muitas faces possui o homem sem rosto.


Apenas a arte salva.


Onde falha a memória, ficção.


Que buscas, furioso, senão o abismo dos teus próprios ressentimentos?


Se a luta política é uma briga de rua, a narrativa futura principia na terra arrasada.


Porque ninguém é obrigado a confessar a própria torpeza, a imbecilidade clama limite. 


Que a ponderação não seja constrangida a passar por vergonha.


Toda estupidez será castigada.  



sábado, 5 de dezembro de 2015

Escroque Empareda Síndica

Paulo Autran, Terra em Transe, 1967



Tudo é real porque tudo é inventado
Guimarães Rosa

Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas;
Hoje, os idiotas pensam pelos melhores.
Criou-se uma situação realmente trágica:
Ou o sujeito se submete ao idiota
Ou o idiota o extermina”
Nelson Rodrigues


Conhecido bandido e contraventor, oriundo da zona do baixo meretricio, batedor de carteira contumaz, chantagista notório, cafajeste e falso moralista nas horas vagas, após ser flagrado por deus e todo mundo com mãos e pés atolado na botija do contribuinte, empreendeu uma espetaculosa tentativa de escapar a perseguição das forças legais. Acuado, num ato de extremo desespero, colocou contra o muro a síndica do Edifício Aurora - condomínio de classe média emergente na Avenida Central. Sob a mira de arma de grosso calibre, emprestada por bondosos vizinhos que alegam ter contas a ajustar com o passado, presente e futuro por conta de mágoa causada pelo padrinho da emparedada, o famigerado meliante mantém a severa, esbelta e desassombrada vovó no papel de escudo humano desde a tarde de ontem sob pretexto de salvar as almas do juízo final.

Não se sabe se por encomenda, vingança, mera jogada de marketing e compadrio, ou quem sabe diversão – dado o caráter piadista do marginal alçado à fama nesta temporada sofrível para o humor pátrio onde vicejam e dão cria as mesmas e surradas anedotas de antanho travestidas de libertadoras novidades. O fato é que o delinquente foi visto várias vezes de braços dados, rindo às despregadas, com o ex-candidato a garoto de praia e competidor no último sufrágio do paradisíaco edifício. É sabido que tal mancebo nutre um rancor doentio por conta da derrota que lhe foi impingida pelas urnas, no último sufrágio. Em todos os botecos das redondezas, por onde beberica sua costumeira batida de leite de moça com groselha braba, não há quem não saiba e comente do sonho dele de ver a rival longe da vista e da praça, por todos e quaisquer meios possíveis e impossíveis. A contida senhora se diz indignada com as acusações de maus tratos que lhe são imputadas por aquela família de assíduos protegidos pelos bambambãs da paróquia que só pensam naquilo.

Segundo apurado por esta reportagem, atiradores de elite daltônicos e com grau de miopia beirando as raias do absurdo, postados em pontos estratégicos da cidade, aguardam tão somente a ordem que de cima virá finalmente livrar a humanidade do convívio com figura tão fedida, abjeta e nefasta. Fontes fidedignas alegam que não haverá nenhum detalhe que esclareça qual deva ser de imediato o alvo, justamente para que os agentes se sintam em casa e sigam suas próprias consciências, conveniências e time do coração, conforme recomenda a portaria, devidamente registrada em cartório e com firma reconhecida, afixada na padaria da esquina por ilustres desconhecidos ciosos dos seus deveres cívicos e extraconjugais.

Em comovida declaração cheia de erros gramaticais, ketchup e muita borra de café, asseclas, cupinchas e sequazes reunidos em ordinária assembleia convocada às pressas para deliberarem quanto ao reajuste das comissões que incidem sobre as entradas e saídas de cargueiros de bandeira apócrifa nos postos e pistas seguras da orla, declaram que o líder é um bom companheiro; pai, irmão, tio, primo, cunhado e marido exemplar; que jamais deixou de honrar seus compromissos, mesmo os mais insalubres e escabrosos; que já patrocinou exuberantes e nostálgicos enredos momescos; e, por conta de um enorme coração, cheio de humilde generosidade, tem sido alvo de inveja por parte daqueles que não conseguem sustentar uma boa, singela e honrada mentira por mais de trinta segundos sem piscar. E prosseguem em arabescos nodais: “O patrão possui sim contas no exterior, não porque descreia e execre o sistema bancário nativo. Tal conduta é ditada apenas por motivos securitários, para que as frágeis e exíguas merrecas lá depositadas não sejam jamais alcançadas por mãos sequiosas do que é dos outros e possam assim cumprir finalidade precípua, ou seja, de serem usadas e abusadas tão somente na distribuição de esmolas, doações, pequenos trocos, gorjetas e, principalmente, o custeio dos nanicos e corriqueiros gastos da patroa que, a bem da verdade, convém que se diga, possui o inocente e incontrolável vício da pura, frívola e sagrada ostentação, devidamente perdoada pela congregação da qual seu marido faz parte desde que era criança pequena e já fazia das suas para gladio e louvor dos próximos e chegados”. Ao final, deixam registrado, para conhecimento da posteridade, em forma de oração, o princípio de que somente o trabalho engrandece e premia. Encerram a nota praguejando contra as malditas muralhas de Jericó que insistem em permanecer de pé a despeito de suas ladainhas e imprecações. Poeticamente clamam, finalmente, que recaia sobre as cabeças dos infiéis de todos os quadrantes, cores, tons e matizes a doce e fria vingança do iracundo deus que lhes é próprio e sobejo.

Homens e mulheres de bens que despreocupadamente levavam seus totós para o cocô diário na via pública, sentindo-se enojados com o odor acre das ruas mas que por detrás de suas lentes escusas gostam de imaginar deambularem por priscas plagas (conforme declarou o mais tímido da turma), disseram não encontrarem absolutamente nada de anormal em tal procedimento, que já estão acostumados com tal desfaçatez. - Faz parte da democracia. Além do que está previsto da constituição a luta pelos interesses particulares, ou não? Embora facínora, o sujeito em apreço é cidadão humano em pleno gozo de seus direitos inalienáveis, vociferou uma perfumada senhora após bater um inofensivo selfie, total e deliberadamente de costas para o crime. Um senhor que não quis se identificar por temer represálias, aproveitou para fazer um ligeiro protesto contra o domínio comunista das nossas instituições e dizer que sente-se deveras preocupado com a situação dos sofridos e mal pagos policiais que fazem de um tudo para desviar seus cansados punhos truculentos da cara de estudantes da escola pública do outro lado da rua que insistem em permanecer em sala de aula mesmo contra as ordens daquelas torpidades que os querem fora do prédio para que possam vender o terreno e assim fazer caixa para o próximo campeonato de pandorgas, pois é sabido que não mais contarão com dinheiro de marca ou grana de grife. – Ora, é do conhecimento até do mundo mineral que não é estudando que se aprende. Quem disse que é assim que se sobe na vida? Gritou do alto de sua profícua e longeva experiência o ancião, concluindo sem receio de qualquer desvio: - Especificamente neste caso, que ninguém nos ouça, o contraditório deve ser assegurado. Mesmo porque, com relação à alegada síndica, ainda não é possível dizer que seja inocente de todo. O meu astrólogo preferido me assegura trovejar nas redes sociais numerosos e anônimos comentários quanto a comprovada intransigência dela em relação aos malfeitos dos outros. E os principais jornais não se cansam de noticiar, está aí pra todo mundo ver e ouvir, que ela, além de fraudar, por margem ínfima e insignificante, a eleição no condomínio, perdeu toda e qualquer credibilidade por conta das pedaladas praticadas no parquinho da praça e colocar em risco a vida de criancinhas que por ali trafegam nos braços de suas cordiais babás. Isto não é coisa de mulher honesta, sair por aí, em trajes menores, montada em veículo impróprio e ainda por cima, a atrapalhar o trafego. A mim me parece tratar-se de pessoa absolutamente sem noção, que não tem o que fazer e que, ainda por cima, é intolerante com os defeitos e imperfeições da natureza humana, o que é inaceitável numa sociedade baseada na indulgente condescendência para com as crenças dos outros.

Pesquisa boca a boca realizada no entorno por fidelíssimo instituto, deu conta de que o emparedamento, prática comum e corriqueira desde a abertura dos portões do sanatório geral, por seu caráter sinistro e maldosamente orquestrado, pode ocasionar, para alegria do mercado de abobrinhas, uma queda abrupta e significativa da moeda dominante, o que possibilitaria que mais e mais famílias, de todos os sexos e profissões, possam aproveitar as adiadas férias de final de ano no Parque de Diversões do Tio Valtinho num clima gostoso de harmonia e paz.

Procurado, o vice-sindico, maganão brejeiro e pândego, não quis fazer nenhum comentário, muito pelo contrário, disse apenas em poucas, doutas e sigilosas palavras que não está, não estará, nem nunca esteve de olho da butique dela porém, de mansinho, deixou escorregar do sovaco uma planilha de reforma da fachada do edifício, patrocinada uma multinacional do ramo atacadista, poderosa predadora moderadamente esfomeada, com sói acontecer com uma companhia desse porte, largura e destreza. Disfarçadamente, para não incomodar o paquiderme que atravanca a sala, produziu uma manobra, verdadeiro golpe de cintura, típica de quem paira acima de tudo desde tempos remotos e, dificilmente conste de qualquer manual e saiu às pressas, só no sapatinho, a mamar seu maná, em sua metafórica carruagem de fogo, a cantarolar com sua voz maviosa de baixo-tenor-médio-soprano, para não acordar os minados pimpolhos encastelados no banco de trás da van, o sucesso do Paulinho da Viola, Pecado Capital, sob o olhar discretamente desconfiado do cônjuge do gênero feminino que tinha hora marcada na manicure para o check-up de praxe.

Escalado para apagar as luzes do vestíbulo assim que a poeira baixar, o guarda-noturno, ao chegar atrasado para o trabalho, fez questão de ser ouvido ali mesmo, na moita. Garantiu aos passantes e curiosos de plantão que profundas e comestíveis elucubrações entraram em curso em todos os turnos e instâncias para que solução de continuidade não afete o recesso político tampouco o bom andamento dos trabalhos que correm em segredo seletivo de justiça. E pontificou com escorreito sotaque javanês: Alea jacta est. 


sábado, 21 de novembro de 2015

Mural das Indiscrições IV



School of Fish, Michael Sowa, 2013



Todo o meu sangue raiva por asas”


Certo ou errado independe de opinião


Se queres amar a vida desconstrua o ideal


Céticos também amam


Para conhecer o futuro basta viver cada instante


Desejos são montanhas sobre as costas


Ninguém engana um honesto


Ricos roubam por esporte


Salário máximo já


Sociedade com o forte jamais é segura


Boa notícia não vende


É hora de encontrar novos vilões



sábado, 7 de novembro de 2015

Anônimos Parachoques I



Service Station Calabria, Jeffrey Smart, 1977


Só dou carona a quem me dá.


Inglêiz eu não sei, maiz heim portuguêiz eu çôu fera.


Se você sorri, eu dou risada com você. Se você chora, eu choro com você. Se você se joga debaixo de um ônibus vou sentir sua falta.


A humanidade está perdendo seus maiores gênios… Aristóteles faleceu, Newton bateu as botas, Einstein morreu e eu não estou passando muito bem hoje.


O Brasil é um país geométrico. Tem problemas angulares, discutidos em mesas redondas, por um monte de bestas quadradas.


O povo diz: quem tem boca vai a Roma. Acontece que o fogão lá da minha casa tem seis bocas e nunca saiu da cozinha.


Canela: dispositivo para se encontrar móveis no escuro.


De nada adianta ter barriga de tanquinho se a torneira não funciona.


As mulheres perdidas são as mais procuradas.


Evite acidentes: faça de propósito.


Não leve a vida tão a sério, afinal você não vai sair vivo dela mesmo.


Peido foi o último esforço que o diabo fez para ver se o cú falava.


Fantasia sexual é que nem cheiro de cocô: a gente só acha normal quando é da gente.


Se um dia a vida lhe der as costas, passe a mão na bunda dela.


Você nasce sem pedir e morre sem querer. Aproveite o intervalo.


sábado, 10 de outubro de 2015

Mural das Indiscrições III

Estudante com Jornal, Pablo Picasso, 1913



Ao contrário do que apregoam as manchetes, palavras não dão conta do mundo.
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Porque a vida não faz o menor sentido, inventaram a ficção.
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Somos todos morais, inclusive os imorais.
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Quando a esperança é casta o mistério desconfia.
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Por que vives isolado? - Para não prejudicar ninguém, disse o eremita.
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Solitários são nervosos, possuem pouca habilidade no convívio social. É que captam muito mais facilmente a rejeição.
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Existem os normais e os que se arrependem.
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Defunto insepulto empesteia o lugar.
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O sujeito é uma abjeção. Porém quer mais, não parará enquanto não chegar a molambo.
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A rigor, toda crise é circunstancial. Se permanece, atingimos o abismo ou viramos neuróticos.
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Dizer “eu” não significa possuir o si mesmo.
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O dono de si repousa na própria pele.
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A riqueza só é explicada pela pobreza.
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Ser contra a propriedade privada não quer dizer que devamos compartilhar escova de dentes.
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Igualdade só é possível entre números.
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Se heterossexualidade é um regime político, homossexualidade é opção?
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Apenas o honesto escapa do engano.
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Fazendeiro vê nascer no rebanho uma novilha com cabeça humana. Consultado o veterinário, foi-lhe dito que providenciasse esposa para o filho.
...

Dentre as várias justiças, o escracho é a mais popular.
...

Os males presentes são: passado e futuro.  
...


sábado, 1 de agosto de 2015

Leis Físicas Bastantes Populares

School Board
Martina Vaculikova, Shutterstock.com

    A pressa é inversamente proporcional à lentidão do trânsito.

    O tempo acelera na direta proporção da satisfação com que fazemos algo.  

    A taxa existencial de um mala gritando ao celular está diretamente relacionada ao índice de lotação de um ambiente fechado.

    A probabilidade de um idoso mencionar seu problema médico com elevado grau de detalhes escabrosos é proporcional ao nível retórico do tudo bem?

    Bicicleta rodando na calçada indica com altíssimo grau de precisão que seu condutor subverte o princípio de Rondon.

    Em qualquer noticiário, existe 100% de chance da boa notícia não gerar audiência.

    Em qualquer incidente, a tendência de que o agente se sinta com absoluta razão é diretamente proporcional ao seu nível funcional, podendo chegar a níveis insuportáveis caso o individuo seja um funcionário público graduado ou alguém ligado a ele por laços parentais.

    Dinheiro público possui alto grau de volatilidade. Esse índice aumenta em progressão geométrica nos instantes em que houver repasse da verba.

    O desejo de golpe é diretamente proporcional ao produto da imbecilização da classe média, espetacularização da justiça, oportunismo, ressentimento político e cegueira histórica carregados ativamente com altas taxas de intolerância religiosa.

    Quanto menos o Sujeito A entende de tecnologia mais desejará que um defeituoso Aparelho Z funcione no tranco.

    Dois tipos de objetos desafiam a Gravidade: a vaidade e a cosmética.   


sábado, 30 de maio de 2015

Duas Palavras

Google Imagens


Quando uma palavra decide chamar atenção é que nem serviço pela metade: exerce pressão.

Recentemente duas pegaram no meu pé: vintage e cunilíngua. Nunca as li ou ouvi mais gordas. A primeira tem me perseguido em textos sobre arte e tendências e a segunda, ouvi num episódio de série cômica com Larry David e agora a danada me aparece figurando no conto Pudico do Rubem Fonseca.

A bem da verdade, é bom que se diga, tenho passado muito bem sem elas. O problema é que quando conheço uma palavra nova sofro um tempo até perceber que é realmente nova pra mim e depois, outro tanto, para descobrir o que a tal tem a dizer.

Enquanto isso, atazanam meu sossego. As atrevidas aparecem sem serem convidadas. À sorrelfa. E pior, alojam-se no lóbulo da orelha e ficam lá, penduradas, miando como se fossem gatos em teto de zinco quente, doidos pra levar uma chinelada.

No começo, tento ignorar. Finjo que não é comigo. Mas existe um perigo: ficar sabendo algo que não sabia, faz da gente cúmplice de alguma coisa. E eu não gosto de ser envolvido em confusão. Principalmente com palavras. Palavras podem ter o peso de montanhas ou a leveza de uma pluma. Depende apenas das circunstâncias em que foram geradas e lançadas ao mundo.

Com o tempo, mais calmo, passo a observar-lhe o contexto para ver se consigo intuir algum significado. Derradeiro, quando já não aguento mais a aporrinhação, abro o dicionário e confiro o que ela quer que eu saiba.

É aí que o bicho pega. Porque em geral, me frustro. Enquanto a gente não sabe, elas dão a impressão de serem coisa de muita importância, carregarem significados do outro mundo, mistérios ocultos, revelações bombásticas.

Talvez por isso, demore tanto a desnudá-las. No fundo, no fundo gosto dessas preliminares, de ser perseguido pela incerteza.

E isso me faz lembrar de outro gato, nesse caso o do Schrödinger. O tal que está preso numa caixa. Enquanto não é aberta não dá para saber se o felino está vivo ou morto. Depois que a gente abre, das duas uma: ou o gato está mortinho da silva ou ele pula com unhas e dentes na nossa cara, puto da vida por ter sido mantido em cativeiro apenas para que um físico demonstrasse sua teoria.

Dessa forma, para nós humanos o resultado de uma hipótese é sempre uma incógnita. Até o momento que a gente vai lá e confere se o “gato está vivo ou morto”.

Mas o que isso tudo tem a ver com aquelas duas palavras, vocês devem estar se coçando de curiosidade. Bem, a primeira quer nos dá a dimensão do que seja antigo. Diz que tudo que tem entre vinte e cem anos, é vintage. Após os cem é antiguidade.

Quanto a segunda, trata-se da boa e velha prática de estimular os órgãos sexuais femininos com a boca ou com a língua.

O que me leva a pensar que a gente precisa prestar mais atenção às palavras. Afinal, andam a surgir algumas que nada dizem, nada acrescentam e outras que, infelizmente, desapareceram por absoluta falta de uso.


sábado, 28 de fevereiro de 2015

Uma Crônica entre a Vida e Morte


Portrait, John Brack, 1955


Acorda. Novamente não: outra vez… Vamos, levante, a bexiga implora alívio… Só mais um minuto, só até daqui a pouco, vamos… Na cama todo o dia se pudesse. Mais um pouquinho… Quinze minutos é só. Igual a ontem, a anteontem… Essa ausência que não é de hoje. Vai passar. Não. Melhor levantar.

O remédio, a caneca, o café e a poltrona… Controle remoto não funciona… Liga, desliga. Agora funciona? Vejamos: um sãofrancisco, dois sãofrancisco, três sãofrancisco… Ligou. Que tem? Zap, zap, zap… Quanto tempo aguentaria diante da televisão? Os olhos ardem, coçam, doem… Procurar um oculista logo. Logo agora que perdeu o plano saúde. Acordar cedo, enfrentar fila… Mais uma pra deixar pra outro dia.

E esta hemorroida. Quantas diarreias teve este mês? A partir de hoje só arroz e feijão… E peixe grelhado. Fim dos cremes, tortas, molhos e, principalmente salgadinhos – esse monte de porqueira. É um porqueira… Merda.

É hora. Onde a revista? O artigo: Fizeram reunião mediúnica em busca de contato com uma poetisa morta. E o espírito baixou. A poetisa suicida deu conselhos aos fãs. Caceta: como é que alguém que comete suicídio pode dar conselhos a alguém? Parece-me obvio que o método criativo falhou.

É o que acontece quando a gente começa a se imaginar atropelado por um ônibus, empastelado nos trilhos do metrô ou após cuspir na cara de um polícia, enquadrar um fascista… Seriam somente mortes fodidas, sem glamour… Já pensei em morrer de comer, de beber (uma vez imaginei cometer suicídio tomando água do Pinheiros de canudinho)… O fato é que tenho falhado desde então.

Uma ocasião tentei convencer algumas pessoas de que valeria a pena morrer por uma ideia. Mas ouvi que os tempos mudaram e que o negócio é continuar vivo para fazer as coisas aos poucos e que morrer de velhice é a maior glória nos dias atuais. Anote: “Deve haver alguma sabedoria nisso”.

Convém tornar isso um mantra. Mas ah, se não acordo. Ótimo esquecer. Seria um tipo de vingança. Porque se continuar vivo por muito tempo corro o risco de me desacreditar por completo.

O fato de saber que vou morrer dói, dói pra cacete… Os nervos falham, as pernas tremem, diarreias constantes, incontinência, cansaço e a cama e essa imobilidade. O esquecimento é o que mata. Queria não pensar. Pra poder viver da cama pra sala, da sala pro banheiro, do banheiro pro quarto, do quarto pra rua, da rua pro trabalho e voltar todo dia ao mesmo lugar. Daria pra fazer tantas coisas. Pequenas coisas. Uma de cada vez.

Vamos… Vamos aos últimos remédios de toda manhã. Mais uma caneca de café e podemos dizer, ao ligar o computador, que “antes tínhamos tempo, hoje temos relógios”.

Quem reparou nos cartões, nas frases edificantes, nos vídeos fofos?

É isso que sabemos fazer. Nós, os fazedores. Uns bilhões de neguinhos, todo manhã, fazendo aquilo que melhor sabem fazer. Agora imaginem esses bilhões ao longo de séculos e façam as contas.

Depois não venham reclamar que não acertamos uma.

Preciso aprender a morrer. E já.