sábado, 26 de março de 2016

Acéfalos


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Além dos fantasmas que nós mesmos criamos, por ignorância, carência ou insegurança, alimentamos alguns que nos foram importados. Destes, muitos foram destruídos, substituídos ou mesmo adaptados. Porém, existem alguns que teimam em permanecer no nosso imaginário, obedientes à velha maldição, resistentes a toda e qualquer mudança, resistentes até mesmo ao nosso cordial e conciliador sincretismo.

Temos visto manifestações de uma turba copiosa de despropósitos, plena de ressentimentos, espumante de ódio, abundante de desinteligências, se batendo na defesa de tempo pretérito retrógrado, sanguinário, contraditório e incompatível com os sonhos factíveis da imensa maioria da população brasileira. O mantra que entoam com garbo e empenho diz tão somente que o progresso tem dono e que a ordem só vale para o outro. Pisoteiam nossa perspectiva de emprego decente, transporte porreta e desafogado, casa, educação e saúde universal de qualidade, viajar de avião, poder comprar besteiras e porcarias nas festas comemorativas e participar das novidades tecnológicas. Em decorrência, abominam um projeto de governo que consiga controlar a ganância, a usura, o individualismo voluntarista e os imprevistos, truques e blefes do mercado financeiro – esse cassino de chacrinhas.

Mas, infelizmente, a China não é aqui.

Vemos que a gigantesca e nefasta influência de uma meia dúzia que detém o capital da informação, seculares arrendatários do nosso chão e das nossas almas para a rapinagem multinacional, adoradores de dividendos, tem nos incutido a ideia de que a melhor posição é de joelhos. Só assim esta aristocracia de araque pode continuar encastelada em ilhas luxuriantes, usufrutuária de reservas ecológicas, direcionada a manter status conseguido em tempos sombrios, manipuladora da história em proveito próprio, justificada na presunção de que apenas a tal meritocracia é capaz de promover o progresso mesmo a realidade nos mostrando que o tão incensado mérito, 99% decorre de herança, fruto de conluio escabroso, falsificação, roubo, furto, sonegação e fraude.

Sob a asquerosa baba destilada dos lábios lustrosos de seus feitores fiéis, assumidos propagandistas de um projeto contrário a emancipação do ser humano, fomos colocados diante de um impasse: Ou aceitamos o projeto imperial colonialista, ou seremos bombardeados, sem trégua, pela distorção da realidade, pelo poder de forjar culpas, fomentar baixa autoestima e conjurar ódio para dentro dos nossos corações. E isto de comum acordo com corporações de deslumbrados funcionários públicos que operam o esfacelamento do Estado em nome de uma autonomia para fazer o que bem entenderem, com todas as armas do mundo, sem ter que dar satisfação a seu ninguém.

Então, qual a voz que nos há de falar e que nos dará força e sentido ao bom senso? Certamente não aquela que, canastrona, evoca a Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, o fantasma que insiste em disseminar trevas no nosso cotidiano. Este monstro acéfalo, de bafo pestilento vaporando do seu ex-pescoço, tem assombrado nossas ruas, nossos ambientes de trabalho, nossas reuniões familiares; espalhado dissidia, desconfiança e medo; louvando um futuro carcomido e de funestos hábitos… Tudo na mais genuína civilidade, sem que algum palavrão seja proferido. Afinal, no universo dos acéfalos, proclamar, diante do mundo, que uma mulher, mãe e avó, eleita democraticamente, vá tomar naquele lugar é perfeita e legalmente admissível mas, ai de quem, neste processo, devolver um sonoro, familiar e arretado porra.

Em face ao exposto, não vejo alternativa senão na formação de uma liga de bruxos, feiticeiros e magos de todos as cores, sexo e credo, capazes de encetarem uma jornada em busca da cabeça deste horripilante personagem. Grita a profecia que somente quando a cabeça for unida ao corpo e cumpridos os devidos rituais de sepultamento em cova profunda, nós, o povo, encontraremos a serenidade necessária para a labuta diária. Se esta monstruosa criatura permanecer insepulta, continuaremos a assistir mais e mais estripulias, enredados em novelas dedicadas a nos emparedar e impedir que se cumpra a função precípua do terror, qual seja, disciplinar as malcriadas criancinhas.


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