sábado, 17 de maio de 2025

experimento

 


Alice in Wonderland, René Magritte, 1945



desdobro -

jamais inteiro

sempre fração


qualquer lado

me opõe

a mim mesmo


viajo

na perspectiva de alcançar

a face do meu disfarce


sou uma alma

mutante

idosa e estranha


 

sábado, 10 de maio de 2025

Universo 25

 

Best Friends, Roger Ballen, 2016


Era uma colônia de ratos, o paraíso dos ratos: um espaço onde os roedores tinham abundância de comida e água, bem como um grande espaço habitável. Começou com quatro casais de ratos que começaram a se reproduzir. Logo, a população cresceu rapidamente.

Após 315 dias, a reprodução começou a diminuir significativamente. Quando o número de roedores atingiu 600, formou-se uma hierarquia entre eles e então apareceram os chamados “miseráveis”.

Os maiores roedores começaram a atacar o grupo, resultando que muitos machos começarem a “colapsar” psicologicamente. Como resultado, as fêmeas se protegiam e, por sua vez, tornaram-se agressivas com as crias.

Com o passar do tempo, as fêmeas mostraram comportamentos cada vez mais agressivos, arredias e sem apetite pela reprodução. Houve uma baixa taxa de natalidade e, ao mesmo tempo, um aumento da mortalidade em roedores mais jovens.

Então, surgiu um novo tipo de roedores machos, os chamados "ratos bonitos". Eles se recusaram a acasalar com as fêmeas ou "lutar" pelo seu espaço. Tudo o que importavam era comer e dormir. Em um momento, “machos bonitos” e “fêmeas isoladas” constituíam a maioria da população. Com o passar do tempo, a mortalidade juvenil atingiu 100% e a reprodução chegou a zero.

Entre os ratos ameaçados de extinção, observou-se homossexualidade e, ao mesmo tempo, o canibalismo aumentou, apesar de haver abundância de comida. Dois anos após o início da experiência, nasceu o último bebê da colônia.

Em 1973, morreu o último rato do Universo 25. O psicólogo John Calhoun repetiu a mesma experiência 25 vezes, obtendo o mesmo resultado.



sábado, 3 de maio de 2025

pensamentos de última hora

 

Não deve ser reproduzido, René Magritte, 1937


imaginar deus é a nossa fortuna eterna,

mas dar-lhe existência

torna miserável a nossa.


só existe sentido na incompletude

na carência, na ausência

na saudade do mundo…


sou tudo aquilo que me falta

ainda mais

aquilo que jamais alcançarei…


transitório,

quanto mais me encontro

mais me perco…

 

me escondo no reflexo

da minha própria natureza