Intimate Diary, Maria Lai, 1977
Dia
71
Ser
enganado por um Isaac Newton, Einstein ou Stephen Hawking a gente até
aceita e segue adiante numa boa… Porém, ser enganado pelo maior
imbecil da paróquia é doloroso e traumático. Pois é, para quem
tem olhos de ver, “o bolsonarismo não é apenas uma ideologia
reacionária, é essencialmente um desvio de caráter”. Um
bolsonarista não tem escrúpulo na hora de criar uma mentira nova
para justificar uma mentira antiga. Faz isto na cara dura, com pose
de vencedor —artifício criado para esconder o lixo interior onde
chafurdam.
Falemos
do depoimento de um tal de Hans River na CPMI das Fake News: o
sujeito acusado de ser um dos responsáveis pelo disparo de mentiras
através de aplicativo. Este indivíduo afirmou que a jornalista
responsável pela matéria que jogou luz sobre o caso, o assediou
sexualmente em troca de um furo. Imediatamente, as redes foram
invadidas por memes e vídeos onde a moça figurava como prostituta.
Este é o modo de ser do bolsonarismo: um câncer.
Se
já era difícil entender o teorema de Pitágoras, com a chegada
desta turma ao proscênio da história política brasileira, está se
tornando impossível conceber o prosaico resultado de 2 + 2.
Dia
32
O
Luiz Felipe Pondé, dublê de filósofo e mungangueiro profissional,
bem que tentou vender a alma ao diabo, mas o capeta, curto e grosso,
recusou. Eduardo Bolsonaro decretou que não se precisa ler livros
para ser conservador (entenda-se extrema direita), mas simplesmente
dar audiência ao Alerta Nacional do Sikêra Júnior — um
verdadeiro mestre na arte de cancerizar geral e ainda sair com um
troco.
Dia
96
Se
todo mundo está correndo pro mercado financeiro em busca de altos
rendimentos, enquanto a produção de bens segue colapsada, de onde
sairá a grana para pagar os dividendos aguardados? Se todo mundo
possui ovos de ouro e ovo de ouro não é transformado em outra coisa
que não seja ouro, uma hora todo ovo de ouro perderá completamente
o valor e as pessoas não mais consumirão o que quer que seja porque
nada foi produzido para ser consumido. Antes do colapso do clima, é
certo que acontecerá, inevitavelmente, o colapso do sistema
financeiro global…
Dia
158
— O
paraíso anunciado pela direita tem um céu de mentira.
— E
o paraíso da esquerda, por acaso é verdadeiro?
— Para
a esquerda não existe paraíso.
Dia
29
Em
época de avanço da extrema-direita e do coronavírus, a série
Hunters coloca uma pulga gigante atrás da nossa orelha. Somos
levados ao centro da luta contra nazistas que foram cooptados pelo
governo norte-americano, por ocasião do término da II Guerra
Mundial e assumidos como “armas” na luta contra o comunismo. Essa
multidão de assassinos acaba por assumir postos chaves na “terra
dos livres e o lar dos bravos” e se dedica ao seu esporte
predileto: preparar o advento do 4º Reich.
Um
inocente xarope de milho, produzido por uma inocente empresa, fará
todo o trabalho: matar metade da população dos EUA e tomar o poder
na maior potência mundial. É aí que surge um grupo, formado por
judeus, uma freira, um ninja japonês e uma negra que, à custa de
muitos tropeços e feridas, consegue anular a meta da diabólica
conspiração.
Porém,
no último episódio nos invade uma incômoda sensação, que acaba
por colocar a série na categoria terror. Assistimos os minutos
finais, com a impressão de que, com certeza, não estamos a salvo,
nem mesmo entre os nossos (ou, em meio àqueles que lutam ao nosso
lado). A paranoia toma conta dos nossos corpos.
Daí
é de bom alvitre ficar atento com a mão que nos alimenta e/ou nos
cumprimenta, pois é possível esteja rolando um virusinho nas
relações ditas afetivas, amistosas e cordiais. Mas, que não se
perca a esperança: ainda existem avós e netos — os últimos
confiáveis, segundo os roteiristas. Por isto, fiquem atentos à
história da própria família e, sobretudo, coloquem-se em
perspectiva na luta da civilização contra a barbárie, afinal é
fatal ser pego com as calças nas mãos na hora que a jurupoca piar.