sábado, 16 de outubro de 2021

Pandemia Randomizada II

 

Bottle of Vieux Marc, Glass and Newspaper, Pablo Picasso, 1913


Dia 954

Não para de crescer o movimento dos descontentes com o rumo das coisas. Os mesmos interesses econômicos e comerciais que guindaram o excrementosíssimo à cadeira presidencial, são os mesmos que agora o querem fora do Palácio do Planalto (e da política), o mais urgente possível. Mas o incrível é que empresários, militares, gente do agronegócio, além de deputados e senadores, ninguém cogita o impeachment do sujeito. Até o Lula é contra. Fala-se algo menos “doloroso” - um afastamento para tratamento de saúde. É por aí, o jeitinho brasileiro a mover os pauzinhos, em mais uma jogada de mestre para que as placas tectônicas do sistema se acomodem sem trauma. No fundo, todo mundo quer chegar em 2022 com as unhas afiadas, pouquíssimas lesões e, se possível, livre da máscara.


Dia 37

A turma que subiu ao pódio da canalhice por obra e graça da mesquinharia nacional, gastou saliva odienta falando de uma tal caixa-preta do BNDES, que era preciso abri-la e coisa e tal… Fizeram disto um cavalo de batalha e acabaram por contatar dois escritórios de investigadores internacionais para realizarem uma devassa em vários contratos do banco. E o que encontraram? Nada, nadica de nada. Todos os contratos existentes foram firmados dentro da mais completa lisura. E aí vem a bomba: Os sherlocks, após exaustivas pesquisas, apurações, raciocínios dedutivos, fala daqui, ouvi dali, confere isto, tica aquilo… produziram um relatório de 08 (OITO, eu disse oito, o-i-t-o, 5 mais 3, 6 mais 2, 4 mais 4, 7 mais 1… sacaram?) singelas páginas onde afirmam, em letras garrafais, não existir nenhum esqueleto dentro da caixa denominada preta do BNDES. Todo este vira-e-mexe saiu por nada mais nada menos que a bagatela de 48 milhões de reais, fatura que o Tribunal de Contas da União não consegue explicar nem com reza braba. O Brasil, atualmente comandado por lunáticos, dementes, esquizofrênicos e psicopatas, sem choro nem vela, morreu em 48 milhões de reais por 8 (OITO) páginas de papel sulfite tamanho A4 que certamente encontram-se esquecidas nalguma gaveta palaciana (se não foram jogadas em alguma lixeira). Só no país tropical bonito por natureza é possível que gente desqualificada, desmoralizada e desacreditada torre dinheiro público para provar que são, de fato, desqualificados, desmoralizados e desacreditados.


Dia 543

A guerra híbrida segue em curso e se desdobra: temos aí a “guerra comercial” entre os EUA e a China. Em jogo, o domínio da tecnologia 5G pelo mundo afora além da supremacia militar na Ásia e no Oceano Pacifico. A China é uma superpotência, inegavelmente. Em 60 anos, saiu de uma realidade medieval e agrícola para alcançar o patamar de potência industrial, comercial e científica. Os EUA, guardiões do livre mercado, não aguentam conviver com este concorrente à altura. Os valentões do velho oeste, e seus capangas, passaram então a fomentar a xenofobia ao apregoarem que o mal estar causado por um vírus que produz pneumonia e leva à morte os indivíduos infectados é obra da genialidade chinesa em busca do domínio total do mundo. Em vez de solidariedade, o governo Trump declarou que nada faria contra a pandemia porque os chineses já estão fazendo o que é preciso — um modo de dizer que não vai mover uma palha para evitar que mais e mais norte-americanos e cidadãos pelo mundo afora morram à míngua. Enquanto isto, a China constrói um hospital para 1000 leitos em 48 horas.


Dia Zero

Quando o fascismo, associado aos liberalistas econômicos e pentecostalismo de resultado, conseguiu estabelecer velocidade cruzeiro na tarefa de dominar o mundo… No dia 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República Popular da China. Uma semana depois, em 7 de janeiro de 2020 as autoridades chinesas confirmaram que haviam identificado um novo tipo de coronavírus, o SARS-CoV-2, transmissível por morcegos, capaz de causar a morte de seres humanos. Segundo uma estimativa do jornal The Economist, é possível que ocorra entre 7 a 13 milhões de óbitos, algo comparável às mortes durante a 1ª Guerra Mundial. Dois anos após o início da pandemia, entre vacinas, vacilos, cuidados e doses brabas de negacionismo, um novo normal tornou-se uma perspectiva remota. O mundo, como conhecíamos, desde aquele dia já era. Restaram apenas algoritmos sacanas e a uberização da vida.



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