Young Girl and Child, William-Adolphe Bouguereau, 1869
minha filha do meio me liga– quer conversar -algo lhe machuca o peito...
eu, que cedofui entregar urina de 24 horas para examevoltei, no ônibus,na companhia de uma criançaque aliviou os minutos tediososdo transporte público:uma coisinha frágil e enérgicae esta contradição me levava a desviar o olhartoda vez que ela tentava contatopor temor de me deixar cativar
fazer-lhes umas gracinhas, brincar talvez
é que me afastava o incômodo da mãe
que a controlava e corrigia a todo instante
como se a pobre pequena tivesse qualquer domíniosobre a surpresa de lhe ocorrer
a todo instante
estar simplesmente viva
– queria eu ter aquele olharsuficiente para iluminar o mundoe fazer de conta que a humanidade tem jeito!
minha filha do meio, finalmente, marca uma hora– aguardo ansioso…e já que ela confia em mim para desabafarpenso em convidá-la para um passeio no fim de semana:talvez um filme, uma exposição…a gente consegue entender melhor as coisasquando gastamos sola de sapatoaté ali onde saboreamos esfihas, pastéis e quibes(a vida é complicadamente bela)assediados por outras tantas contradições,possibilidades e senões…a liberdade consiste nisto:ter olhos dóceis para enxergar o mundoe saber se esquivar das armadilhashumanas…
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