sábado, 9 de maio de 2020

a mulher de ló

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em meio a pandemia


o papa caminha deserto na praça de são pedro

em direção ao altar de sacrifício


uma bruxa dança solitária numa praça de salento

excitando as forças telúricas


os pobres do mst distribuem toneladas de alimentos

        aos pobres das cidades


e profissionais da saúde dormem no chão dos hospitais

cansados de incharem estatísticas

com o tempus mortis de milhares


tanta comoção não comove

o mundo continua estúpido

doloroso e tradicional

o mundo desenxerga

os tempos e as pessoas verbais


o mundo não faz a menor ideia

de como sair da encruzilhada

dos mandos e desmandos

do paradigma

do terno e gravata

irresponsavelmente aventureiro

fazendo a barba

passando rímel

enamorado de si mesmo

defronte ao espelho esculpido em gazes néon


num lapso de tempo futuro, um tilt no sistema

informa que o mundo acabará

por se tornar uma coluna de sal

e todo mundo vai às compras...


e aqui esconjuro os mercadores da fé

os comerciantes da autoajuda

os vigários do nada

matraquearem

que tudo se resolve naquele papinho particular

consigo mesmo

ou com o tal deus cercado de agentes intermediários…


e penso

se o comportamento único e oficial resolvesse

as formigas, os cupins

e as abelhas seriam soberanos do planeta


mas o que vejo

é que os danados não possuem lágrimas

os danados não choram mortos

os danados desconhecem a compaixão

o significado da palavra consolação

        solidariedade


entendem os danados

da profanação da linguagem

da beleza

e do sagrado


entendem os danados

da exaltação da própria força

afinal, fazem da vangloria

        - esse escárnio -

um escandaloso repúdio à dor alheia




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