sábado, 11 de novembro de 2017

delírio matinal 19º dia


The Time, Luc Tuymans, 1988


primeiro negou à cara o soco...
depois, penhorado, trabalhou o bolo
fez render a moenda, o caldo
e por gerações sonhou a fartura
do pão
que o diabo amassou

um dia (é a lei), coisas tornam-se antieconômicas...
e se acaso ocorra estranhar ser mandado às favas
considere que a história não está nem aí pra migalhas
muito menos pro desemparo
daqueles que abdicaram de seus próprios corpos
em nome de possuir uma alma novinha em folha


nesse dia, dia de negação, é batata tornar-se alheio
ao passado - esse tenaz perseguidor,
detalhe incomodo, safado e mau
que o exigente e altivo progresso suporta e tolera
como um mal necessário do tipo que vem pra bem

repara que é dele (desse revirador de vontades) a mão invisível
que maneja e estala o antigo chicote
a mesma que surge em horário nobre, em rede nacional
a conclamar sacrifício, autoimolação
porque agora é porreta dar-se
sem perguntar que quem como por que
para que não duvides do mistério que edifica e propaga
a boa obra do senhor de todas as milícias a serviço do mercado

eis que na praça já uma nova guloseima
necessita pintar e bordar
na balada das almas mansas e sedentas
do maná que haverá de ser repartido logo mais adiante
para que tudo pareça consumado nesse dia

porém, cuidado, por favor, não faça
que nem o pessoal daquela mesa ao lado
que, cheios de malícia, a cada rodada de apostas,
elevam as esperanças de se cumpram carcomidas profecias

repara,
mesmo que a ministra, num ato discricionário,
antecipe o feriado do sábado para a quinta
não haverá pra você fim de semana prolongado
mesmo porque talvez ainda tenhas uma chance
quem sabe não é chegada a hora de, finalmente,
entrar para uma escola de arte
e descobrir como passar uma bela rasteira
nessa perversa e ridícula companhia
apenas pelo singelo e sagrado prazer
de vê-la cair de bunda num trivial pastelão


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