sábado, 18 de novembro de 2017

delírio matinal 20º dia


Taverneiro, Boris Kustodiev, 1920


me sinto um rei
no boteco do sidney
é seu paulo praqui
seu paulo pralá
e depois uma boa dose de velho barreiro com limão
cai bem falar
(no saudoso e bom estilo paulorenaultiano)
do espirito do vinho
das ladeiras de ouro preto
e até tecer considerações sócio-econômicas sobre o novo-riquismo
performance que torna uma vida um tanto mais suportável
e parece cessar o pulsar dos calos
e a saudosa urgência de regresso
pralguma biboca nos cafundós do sertão

são tantos os que sonham
no boteco simples do sidney
esse ingênuo que, inocente do seu cinismo
a questão de exibir
a sua L 200 triton glx exultante
certo de que se o camarada for esperto
trabalhar de sol a sol
de domingo a domingo
tal qual portugueses, italianos e judeus
(não diz negros nem índios
por absoluta falta de tempo para consultar um dicionário)
é possível (e eis aqui a magia e beleza do trivial)
a qualquer um
esse fiapo de sorte que a todos fazem engolir
porções do comercial com costela
a um precinho camarada, bem ao gosto do freguês e amém

desperto, de volta à sobriedade
peço minha galinha caipira pra viagem
pois desejo saboreá-la ao som de gershwin
afinal sei que depois de várias garfadas
chegarei à conclusão 
que sou um bobo da corte
mesmo sabendo que alguns segredos
de tão evidentes 
parecem improváveis



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