sábado, 1 de abril de 2017

O Velho, a Voz e a Palavra


A Palavra (Pássaro da Mulher) 
Max Ernst, 1921


À Mãinha


Diante do costumeiro, primeiro
Trincou a redoma do igual,
E o velho ouviu a voz.
E era íntima e era música
E a voz doía e lamentava a voz,
E chorava a voz que habitava o mundo
E o velho, habitado agora pela voz,
Ecoou o mundo, insone de agonia
E viu e ouviu
Além de toda ânsia
De toda inquietação
Além da noite imensa 
Que a tudo escondia
E o velho viu e ouviu
A palavra que lhe vinha
Que alada lhe surgia,
E rasante lhe nascia,
E tudo a ele preenchia
E foi aí, que finalmente
Ali, naquele oco
Que tanto lhe feria
Abraçou-se-lhe
O silêncio da poesia
E o velho riu
E o velho sorriu
Que nem mais toda lástima 
Derradeira antes lhe vestia. 


3 comentários: