sábado, 1 de novembro de 2014

O Marujo e a Amada


Vênus and Sailor, Salvador Dali, 1925



O marujo e a amada
De mãos amigas e tocadas
Diante das ondas mirados
Espraiam na brancura da areia
Enquanto o silêncio principia a lua

O marujo frasco oferta à amada
A amada frasco doa ao amado
Um rumor vindo da cidade abrupto cala
Melodia indistinta, inédita, quer se ouvir…

Olhos nos olhos, acertadas pálpebras
Bebem o frio que enovela e treme
Uma onda mais alta os mergulha
A cidade se esvai, eco’a praia…

No fundo barco encontram
Os amantes de sabidas velas e navegagem
Rumam líquidos, aliados de cantantes ventos
Que saúdam e pajeiam destemor apaixonado

Mais eis que rodopia redemoinho
Que não deste mundo torto que girava tonto
Os amantes sem ânsia se beijavam
Na amurada desassustada e sólida desse sonho

Antes respiram quando emergem
Uma serpente lânguida aguarda…
Que fazem, ó insensatos?
Não aqui no reino do faz de conta
Onde é impossível a verdade e
Reina inquieto entre nós senhor
Inconstante de imprudência insana!

E antes que impressione os jovens
Avança sobre eles feroz ciúme
Em nome e defesa de despropósitos…

O marujo salta um flanco
A amada baila por outro
E quando os dois alcançam novo abraço
Ao dragão não se impede
Que exploda inteiro na sua pompa

Do sangue da serpente prateada
Qual o manto do luar sobre as águas
A terra nova jubilosa agradece e ri
E até hoje a linguagem humana
Por escrúpulos e cuidados esquece
De nomear os escaninhos dessa história
De medo que o encanto deixe de encantar
As nossas adornadas e saudosas entrelinhas.


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