Vênus and Sailor, Salvador Dali, 1925
O
marujo e a amada
De
mãos amigas e tocadas
Diante
das ondas mirados
Espraiam
na brancura da areia
Enquanto
o silêncio principia a lua
O
marujo frasco oferta à amada
A
amada frasco doa ao amado
Um
rumor vindo da cidade abrupto cala
Melodia
indistinta, inédita, quer se ouvir…
Olhos
nos olhos, acertadas pálpebras
Bebem
o frio que enovela e treme
Uma
onda mais alta os mergulha
A
cidade se esvai, eco’a praia…
No
fundo barco encontram
Os
amantes de sabidas velas e navegagem
Rumam
líquidos, aliados de cantantes ventos
Que
saúdam e pajeiam destemor apaixonado
Mais
eis que rodopia redemoinho
Que
não deste mundo torto que girava tonto
Os
amantes sem ânsia se beijavam
Na
amurada desassustada e sólida desse sonho
Antes
respiram quando emergem
Uma
serpente lânguida aguarda…
– Que
fazem, ó insensatos?
Não
aqui no reino do faz de conta
Onde
é impossível a verdade e
Reina
inquieto entre nós senhor
Inconstante
de imprudência insana!
E
antes que impressione os jovens
Avança
sobre eles feroz ciúme
Em
nome e defesa de despropósitos…
O
marujo salta um flanco
A
amada baila por outro
E
quando os dois alcançam novo abraço
Ao
dragão não se impede
Que
exploda inteiro na sua pompa
Do
sangue da serpente prateada
Qual
o manto do luar sobre as águas
A
terra nova jubilosa agradece e ri
E
até hoje a linguagem humana
Por
escrúpulos e cuidados esquece
De
nomear os escaninhos dessa história
De
medo que o encanto deixe de encantar
As
nossas adornadas e saudosas entrelinhas.
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