sábado, 8 de novembro de 2014

Ecos ou Crônica dos Vícios Banais



Hercules, John Singer Sargent, 1921




Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas
Jesus, o Cristo

Velho professor: Para testar o herói, Hera gerou a Hidra: serpente descomunal, de muitas cabeças e hálito pestilento que a tudo destruía. Alcides, que cumpria castigo por descomedimento, foi chamado ao Vale do Peloponeso para dar fim àquela perversidade. Mas a cada cabeça decepada outras surgiam no lugar. Alcides pede ao sobrinho Iolau que cauterize o corte com uma tocha e assim impeça que novas cabeças surjam. Para destruir a que era imortal, ergueu o monstro acima do solo, retirando-lhe a capacidade de sugar algum poder da terra. Só assim a Hidra pode ser finalmente derrotada.

Rochefoucauld: A hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude.

Umberto Eco, sobre Mussolini: Um dia, ele pediu que Deus o fulminasse ali mesmo para provar sua existência. Deus, estando distraído, permitiu que marchasse sobre Roma.

Norberto Bobbio: O fascista fala o tempo todo em corrupção. Fez isso na Itália em 1922, na Alemanha em 1933 e no Brasil em 1964. Ele acusa, insulta, agride como se fosse puro e honesto. Mas o fascista é apenas um criminoso, um sociopata que persegue carreira política. No poder, não hesita em torturar, estuprar, roubar sua carteira, sua liberdade e seus direitos. Mais que corrupção, o fascista pratica a maldade.

Anônimo: Cinismo é quando você mente de cara limpa. Hipocrisia é quando você mente de cara suja.

Cidadão casado que mantém amante: De minha parte, nego o pecado para que a virtude seja salva. Minto, minto mesmo, apenas porque reconheço a força social da virtude. Afinal, não podemos viver sem ela.

Político pragmático: Não nego o vicio, não nego as faltas, os erros, os desvios… Não nego nada. Todos os valores são burgueses, portanto relativos.

Advogado dos dois: Embora fosse ameaçado de ir pro inferno nunca resisti à tentação de fazer o contrário daquilo que os padres ensinavam. Por uma razão bem simples: se eles, que eram padres, podiam fumar, beber, jogar, contar piadas obscenas, usar e abusar do dinheiro e da ignorância dos fieis, apalpar os coroinhas, fornicar com deus e todo mundo… Onde estaria o erro, qual seria o mal do mundo se os únicos a sofrerem castigo eram somente aqueles que ousavam desafiar os mandamentos da poderosa Igreja. Das duas uma: Deus não existia ou aprovava tudo aquilo. Se não existia alguém tinha que ter autoridade para definir o certo e o errado. Se existia e aprovava tudo aquilo, os padres, como representantes Dele na terra, estavam livres e legitimados para falarem uma coisa e fazerem outra completamente diferente. Em qualquer uma das situações, era inegável que os homens de batina, por sua história, levavam sempre a melhor sobre o medo da maioria. Assim, foi fácil chegar à conclusão de que apenas o cinismo possuía a resposta mais confortável ao dilema da existência. Claro, desde que você nunca se deixe apanhar de calças curtas com a mão na botija.

Juíza carioca ao proferir sentença em favor de juiz flagrado sem habilitação por agente de trânsito: Dizer que Juiz não é Deus é crime.

Vetusto político, flagrado a trair descaradamente: Apesar de toda tecnologia, como reconhecer e difundir a verdade num ambiente onde todos se locupletam com a mentira?

Kant: A verdadeira liberdade é a capacidade humana do autocontrole. Isso é autonomia.

Monge budista: Um dia, um pai saiu pro mercado e deixou os filhos a brincarem na sala de sua residência. Quando estava voltando, viu que um incêndio tomava conta da casa. Só as crianças não viam. O pai gritou, gritou e nada. Estavam tão entretidos em seus jogos que não reparavam no perigo. O pai, de fora, começou a acenar com novos brinquedos. Só assim as crianças saíram da casa em chamas e foram salvas.


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