sábado, 16 de novembro de 2013

Ideologia



Left Hand With Index Finger, Vasily Polenov, 1885




Queria esquecer de mim
Por um momento que fosse.

Lembrar de não despertar
Esse inflexível que me atormenta.

Sujeito implacável, esse senhor:
Crudelíssimo em suas criticas.
Parece não viver em mim, o atroz.

Talvez se esquecesse de mim
A história do meu fracasso fosse risível,
Uma comédia sem qualquer pretensão
Ao invés do dramalhão mexicano
Em que o egotista que me atrapalha
Produz, dirige e encarna o vilão que se diz gente boa.

Daria meus dedos por outro que não este que me vigia
Em meio as sombras da minha insalubre intimidade
A me espreitar por detrás de esconsa e lascívia flor na boca

Entregaria minhas piores e melhores partes
Para me ver livre do seu indicador e da sua onipresente ferida.

Mas esse mestre da dissimulação
Quando sente que já me esculhambou o bastante,
Lamenta, escorre e busca, numa eloquente lágrima
Os meus olhos por costume, que no fundo são os seus,
Revisitar os fantasmas dos meus brinquedos quebrados,
As minhas inconsequentes imprecisões e as infinitas palavras de vingança
Que murmurarei atrás da porta absorvido em nosso espelho sem face
Alheio ao fato de que meu guia sempre desaparece quando mais preciso dele.


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