Elvis I e II, Andy Warhol, 1963
Todos os dias
Quando abro a conhecida
janela
O desconhecido bate à
porta.
Ignoro-o, por
incapacidade de reconhecê-lo.
Todos os dias
Quando saio à rua
Minha liberdade é
posta à prova:
Um ruído, um gesto, o
saldo de ontem...
Tudo exige resposta
afora a usual.
Todos os dias
Passo ao largo,
invisível,
Insensível a todos os
desafios,
A qualquer coisa que
passe além
De um mecânico e
normal dia de trabalho.
Que seria de mim se
levasse uma vida de herói?
Se tudo que encontrasse
de engano, bradasse minha justiça
Como se fora ela a
única desse mundo?
Sou apenas um passante
Tento ser apenas um
passante
Embora traga nas tripas
um gosto amargo
Indevidamente digerido,
a fermentar ideias ácidas,
Loucamente cientificas.
Sempre posso estar
errado sobre tudo
Até sobre a minha
própria covardia.
Vocês, que me lerão
no futuro,
Tenham compaixão do
meu defunto.
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