sábado, 31 de agosto de 2013

O Ser e o Defunto


Elvis I e II, Andy Warhol, 1963



Todos os dias
Quando abro a conhecida janela
O desconhecido bate à porta.
Ignoro-o, por incapacidade de reconhecê-lo.

Todos os dias
Quando saio à rua
Minha liberdade é posta à prova:
Um ruído, um gesto, o saldo de ontem...
Tudo exige resposta afora a usual.

Todos os dias
Passo ao largo, invisível,
Insensível a todos os desafios,
A qualquer coisa que passe além
De um mecânico e normal dia de trabalho.

Que seria de mim se levasse uma vida de herói?
Se tudo que encontrasse de engano, bradasse minha justiça
Como se fora ela a única desse mundo?

Sou apenas um passante
Tento ser apenas um passante
Embora traga nas tripas um gosto amargo
Indevidamente digerido, a fermentar ideias ácidas,
Loucamente cientificas.

Sempre posso estar errado sobre tudo
Até sobre a minha própria covardia.

Vocês, que me lerão no futuro,
Tenham compaixão do meu defunto.


Nenhum comentário:

Postar um comentário