sábado, 7 de setembro de 2013

9:20


Blue Morning Glories, Georgia O'Keeffe, 1935



Meus dias são regulares,
Sigo o meu relógio:
Daqui pra lá, de lá pra cá...
Um, dois, três, quatro...
Sobe e desce, entra e sai...
Come e dorme, come e dorme, come e dorme...

Por que penso vez em quando que não saio do lugar?
E esta tal de gravidade que não me deixa mentir.

Nada acontece por onde passo
Talvez aconteça depois que passo
É possível que se eu fechar os olhos
As coisas decorram como eu penso que sejam
Ou quem sabe as coisas aconteçam
Apenas do lado de lá da calçada
Que é aquele lugar que nunca passo.

Tenho pra mim, que se eu atravessasse a rua
Aquele acidente poderia ser diferente
Do que normalmente acontece deste lado da calçada
Onde a mendiga religiosamente mostra as partes para a praça
(Seu gesto não tem malicia, nem foi premeditado
É uma manifestação puríssima, de absoluta indiferença).

Meus dias são, caprichosamente, regulares.
Embora, ultimamente, eu ande sobrecarregado,
Pleno de ideias duradouras sobre o nada.
Ideias que se não me fazem confrontar o passo
Causam um dano danado às minhas costas.

E meio fora de hora, sem contudo ser importuno
Lembro de não esquecer o que pensei no chuveiro
“Tenho medo de te esquecer,
Por isto te coloquei como descanso de tela.
O quanto isto é verdade? Não é.
Adoro inventar histórias sobre nós”.

Sei onde quero chegar, só não sei como chegar.
Não é o amor, que apresso morro acima,
Mas o tédio, que não pode desabar ladeira abaixo.

Mais não digo se quisesse, nem diria hoje se pudesse,
Tudo que desejo é não chegar atrasado pro trabalho.




2 comentários:

  1. Muito complicado isso de não chegar atrasado ao trabalho...porém o cotidiano virou poesia. A vida concreta no mundo da palavra!

    Abraço do Pedra

    www.pedradosertao.blogspot.com.br

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