sábado, 29 de junho de 2013

Contribuições à Primavera Brasileira


Rembrandt, Moisés Quebrando as Tábuas da Lei, 1659



Em meio aos protestos que assolam o país clamando por mudanças, subo aqui três singelas bandeiras com o intuito de contribuir para o surgimento, antes tardio do que nunca, de uma República Sincera, de uma Nação Com Bastante e Duradoura Vergonha na Cara.


O primeiro projeto foi-me inspirado na luta hercúlea do pastor e deputado nas horas vagas, o ínclito e encíclico Marcos Feliciano e sua cruzada mitológica para instituir finalmente na história deste país a categoria ex-gays, classe que conforme todo mundo sabe é que nem cabeça de bacalhau, isto é, ninguém nunca viu, vê ou verá. Tal iniciativa tem sido uma lendária busca de reconhecimento futuro, por parte das instituições, à situação de muitos que, como ele, debatem-se no fogo da lascívia e não encontram tronco que possa servir-lhes de consolo neste mar de iniquidades e chororô que é a vida. Desta forma, em sua homenagem, lanço o Projeto Cura Picaretagem: uma lei, que se não nos foi enviada do Monte Sinai, tem o mérito de ajudar uma larga fatia do eleitorado a se livrar, definitivamente, do vício de viverem uma vida ardilosa, plena de velhacarias e astúcias, sempre à procura de modo, jeito, maneira, uso ou meio de aproveitar-se dos outros a qualquer custo ou lábia.


O segundo projeto é uma homenagem a uma emergente mocidade que surge no rastro desta nova ferramenta de fazer doidos, que é a tal da internet e, principalmente, à categoria das novas “graxinhas” bonitinhas e jeitosinhas que ululam e pululam no sagrado direito de dizerem qualquer bobagem, na prerrogativa inviolável de nos fazer rir, também a qualquer custo. São os chamados novos humoristas, de pé sentados, deitados, cagando, andando ou não, cujo tresloucado objetivo, com razão, afinal os tempos continuam bicudos, é chegar na tela da Globo, local onde pretendem enterrar de vez suas acintosas carreiras, como sói acontecer entrementes. Inspirada na trupe humorística Porta dos Fundos que, ao contrário do correlato Rafinha Bastos, não come nem engana ninguém com o seu novo vídeo Reunião de Emergência. Nesta nova esquete o grupo consegue a proeza de revelar, com todas as piadas possíveis, que podemos ser burros e contribuir ainda mais para o processo de emburrecimento da sociedade brasileira. Em sua justa homenagem lanço o Projeto Cura Burrice, que visa tão somente livrar-nos, para todo o sempre, de conselhos, observações, análises e pareceres despropositados e baseados única e exclusivamente em preconceitos e completa ausência de noção.


O terceiro e último projeto foi-me inspirado pela alva, basta e culta cabeleira do ex-cineasta e pseudo jornalista, o camaleônico Arnaldo Jabor, que no inicio dos protestos foi à telona anunciar, à soldo, seu veemente repúdio àquela “imensa ignorância política, plena de rancor e totalmente sem rumo” para, 48 horas depois, novamente à soldo, na mesma telona, glorificar os jovens que haviam despertado porque “ninguém aguenta mais ver a República paralisada por interesses partidários e privados”. Em sua grata e longeva homenagem lanço o tão aguardado Projeto Cura Hipocrisia: um ato legislativo que nos lançará finalmente numa nova era, uma era onde não mais existirá nenhum fingimento de bondade por parte de seu qualquer que seja, principalmente se fizer uso de meio de comunicação de massa.



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