Rembrandt, Moisés Quebrando as Tábuas da Lei, 1659
Em meio
aos protestos que assolam o país clamando por mudanças, subo aqui
três singelas bandeiras com o intuito de contribuir para o
surgimento, antes tardio do que nunca, de uma República Sincera, de
uma Nação Com Bastante e Duradoura Vergonha na Cara.
O
primeiro projeto foi-me inspirado na luta hercúlea do pastor e
deputado nas horas vagas, o ínclito e encíclico Marcos Feliciano e sua cruzada mitológica para instituir finalmente na
história deste país a categoria ex-gays, classe que conforme todo
mundo sabe é que nem cabeça de bacalhau, isto é, ninguém nunca
viu, vê ou verá. Tal iniciativa tem sido uma lendária busca de
reconhecimento futuro, por parte das instituições, à situação de
muitos que, como ele, debatem-se no fogo da lascívia e não
encontram tronco que possa servir-lhes de consolo neste mar de
iniquidades e chororô que é a vida. Desta forma, em sua homenagem,
lanço o Projeto Cura Picaretagem:
uma lei, que se não nos foi enviada do Monte Sinai, tem o
mérito de ajudar uma larga fatia do eleitorado a se livrar, definitivamente, do
vício de viverem uma vida ardilosa, plena de velhacarias e astúcias,
sempre à procura de modo, jeito, maneira, uso ou meio de
aproveitar-se dos outros a qualquer custo ou lábia.
O segundo
projeto é uma homenagem a uma emergente mocidade que surge no rastro
desta nova ferramenta de fazer doidos, que é a tal da internet e,
principalmente, à categoria das novas “graxinhas” bonitinhas e
jeitosinhas que ululam e pululam no sagrado direito de dizerem
qualquer bobagem, na prerrogativa inviolável de nos fazer rir,
também a qualquer custo. São os chamados novos humoristas, de pé sentados, deitados, cagando, andando ou não, cujo tresloucado objetivo, com razão, afinal os tempos
continuam bicudos, é chegar na tela da Globo, local onde pretendem
enterrar de vez suas acintosas carreiras, como sói acontecer
entrementes. Inspirada na trupe humorística Porta dos Fundos que, ao
contrário do correlato Rafinha Bastos, não come nem engana ninguém
com o seu novo vídeo Reunião de Emergência. Nesta nova esquete o
grupo consegue a proeza de revelar, com todas as piadas possíveis,
que podemos ser burros e contribuir ainda mais para o processo de
emburrecimento da sociedade brasileira. Em sua justa homenagem lanço
o Projeto Cura Burrice, que visa tão somente livrar-nos, para
todo o sempre, de conselhos, observações, análises e pareceres
despropositados e baseados única e exclusivamente em preconceitos e
completa ausência de noção.
O
terceiro e último projeto foi-me inspirado pela alva, basta e culta cabeleira do ex-cineasta e pseudo
jornalista, o camaleônico Arnaldo Jabor, que no inicio dos protestos
foi à telona anunciar, à soldo, seu veemente repúdio àquela
“imensa ignorância política, plena de rancor e totalmente sem
rumo” para, 48 horas depois, novamente à soldo, na mesma telona,
glorificar os jovens que haviam despertado porque “ninguém aguenta
mais ver a República paralisada por interesses partidários e
privados”. Em sua grata e longeva homenagem lanço o tão aguardado
Projeto Cura Hipocrisia: um ato legislativo que nos lançará
finalmente numa nova era, uma era onde não mais existirá nenhum
fingimento de bondade por parte de seu qualquer que seja,
principalmente se fizer uso de meio de comunicação de massa.
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