O Paranoico, cartoon do Camaleão, 2000
Junho,
24:
Sinto que
estou sendo observado. Quem se interessaria por minhas esquisitices?
Agosto,
30:
Manhã: O
telefone toca, alguém respira e desliga. Tarde: Agora foi a
campainha – quando olhei pelo olho mágico, nada, ninguém. Noite:
Juro que deixei o pacote de leite na prateleira de cima da geladeira e o encontro aonde? - Na grade superior da porta. Muito estranho.
Dezembro,
31:
Fotografei
todo o apartamento, comodo por comodo, detalhe por detalhe. Quando
voltar confiro tudo.
Fevereiro,
2:
Janice
não quer mais falar comigo. Astrologia pode? Gozado, ela.
Abril,
18:
Como foi
possível meu chefe saber do meu protesto se sussurrei aquele
pensamento pro espelho do banheiro da área de serviço? Aqui tem
coisa.
Maio, 30:
Acredite
se quiser, o que anda acontecendo comigo está além da imaginação.
Julho, 21:
Janice
disse que devo procurar ajuda. Não dá pra confiar em ninguém.
Outubro,
12:
Tudo bem,
vou dar um tempo. Agora não é hora de pensar num novo emprego.
Posso viver com a indenização uns seis meses.
Novembro,
15:
Aquele
carinha não me é estranho. Donde será que o conheço? É possível
que esteja me seguindo. Muita coincidência. Se ele aparecer na
padaria amanhã , vou encarar.
Janeiro,
25:
Heleno
(nome de guerra, claro) é franzino e cegueta. Foi logo dizendo que
eu preciso ver as provas guardadas a sete chaves no porão da velha
fábrica abandonada onde, nos últimos cinco anos, vive escondido de
tudo e de todos. A conferir.
Março,
29:
Como
nunca percebi?... Bem aqui, diante dos meus olhos... sempre ao
alcance da minha mão... desde quando?
Abril,
17:
Realmente,
como disse Carl Sagan um ano antes de morrer: “Não pensar na
possibilidade de que exista vida lá fora, é um absurdo”.
Maio, 1:
Devemos
resistir ou, em breve, seremos transformados em autômatos a serviços
de propósitos escusos.
Agosto,
13:
Heleno
finalmente mostrou-me os documentos secretos. Sim, a NASA sabe de
tudo.
Novembro,
2:
Fato
inegável: fomos invadidos. Sondas extraterrestres passeiam por aí.
Dezembro,
25:
As provas
são contundentes. Planejamos invadir o complexo. Temos que desativar
a produção.
Abril, 21:
Conseguimos
chegar até a central de controle. Fomos surpreendidos por guardas de
cabeças redondas e negras. Heleno foi morto. Malditos.
Outubro,
31:
Vou cair
na clandestinidade. A você que, porventura, leia este diário lanço
a pergunta que levou-me a esta inacreditável aventura: porque as
esferográficas BIC sempre aparecem em diferentes lugares e nunca
nos questionamos se realmente as havíamos deixado onde as
encontramos? Fique esperto. Ao se deparar com estas canetas,
principalmente com a super perigosa BIC Verde, todo cuidado é pouco.
Nunca deixa-a presa à sua orelha. Além de enviar dados para o
espaço, consegue influenciar de modo drástico seu modo de pensar.
Não se renda à manipulação marciana. Lembre-se: a Terra nos
pertence. Vida longa e próspera enquanto a luta continua.
Paranoia irônica. Gostei!
ResponderExcluir