Nude Reading at Studio Fire, Bernard Hall, 1928
És um
plano, quando busco te olhar daqui:
Pedra e
pó a te cobrirem o tempo, tua partida
Alguns
escorpiões e gravetos esquecidos
Das
lágrimas que escorriam desde a tua luminosa face.
Porque
foste para mim luminoso, sabia?
Se estivesses ali, não sei se ao lado, imagino
Talvez um
pouco acima ou mais abaixo... Isto importa?
Importa
sim, é a colina, a mesma que hoje subo erodida
Pelos
lascivos beijos do teu pai, lembra?
Mas como
tu iria lembrar que foi dali que te busquei avistar
Tu, o
perdido antes tido e havido prometido e coisa e tal?
Se tu
voltares? Voltarias um dia, pra quê?
Para
contemplar as muralhas ou evocar as rochas...
Acaso
deixaste pendente algo entre os paredes desta sala?
Diga-nos,
quando voltares: sentiste falta do perfume destas deliciosas mulheres
Que em
nome de seus amantes generosos, todos eles indestrutíveis,
Ainda te
acenam e te saúdam nos poucos metros que faltam à tua glória
Tu, o
perdido e todas as noites revivido em minha memória deserta e falha?
Se um dia
cogitares assumir o lugar que te cabe nesta história, venha:
Mesmo que
venhas naquele teu passo miúdo e tímido – te compreendo!
Pois te
penso ainda bem. E apesar de saber que tudo temes (e quanto temes!)
Não há
nada que possamos comemorar (nem tente, quem poderia?)
Mas com
certeza te pedirei que ergas um brinde à alegria dos velhos
Tu, meu
tão acanhado perdido e probo amante desejado.
Se
voltares...
Verás que embora este júbilo possa te parecer estranho,
fora de proposito,
Porque
inútil em horas categóricas, totalmente inútil nas derradeiras
horas,
Não te
deixes intimidar pelos vazios da matéria quando indagares
Sobre o
que foi feito da paixão e da ternura daquele meu lirismo épico
Com o
qual animei algumas noites embriagadas de esperança e caos...
Mas não
creio que a resposta te pareça próxima, pois isto jamais nos foi
familiar.
Que
isto não te impeças de voltar, viu? Venha, que ainda te olho
Que ainda
te vejo e mesmo que não sejas nítido
És um
plano apenas pedras e pó te sobrepõem e não só:
Todas as
palavras te devem ser tão novas de tão soltas.
Mais uma
coisa te peço: acaso teus pés tropeçarem nalgum adorno
Ou teus
ouvidos despertem com o tilintar dalguma prata
Mantenha
pra ti esta mera coincidência e lembra-te: fiques intacto
Apenas
perdoa a mim, esta indiscreta, que em pensamentos,
Vez por
outra, te flagra nalguns usos triviais tão próprios de novelas...
É que
tu, não sei se devido, mantém um pudor quase artístico em
decifrar-te
Ou talvez
eu nunca tenha sido destinada para deveras um dia conceber amar-te.
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