sábado, 22 de dezembro de 2012

A Coisa Mais Corriqueira do Mundo


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Rasgaram meu peito numa manhã de segunda-feira,
Simples segunda-feira, desencanada manhã era então.

Nada de anormal ocorreria naquele dia, a não ser
Meu coração que, atrevido, teimava em desrespeitar velha trégua.

Mas, tudo bem... Não há nada de extraordinário nisto
Nada que mereça um “oh”... Acontece, não é mesmo?

E não ocorreram-me palavras, horas depois, após o lapso
Quando disseram que a operação fora um sucesso.

E tal qual uma transa bêbada numa madrugada de sexta
Quem ousaria entrar em detalhes no sábado?

Embora a prova estivesse ali, indelével na forma de um indesejado fecho-éclair
Fazíamos de conta que aquele era o melhor dos mundos, nós todos inocentes

Tenho estado sem palavras e sem pensamentos desde então
Além de nenhuma coragem de andar pelas ruas

Morri e nasci outra vez dizem-me e retribuo com um muxoxo
Afinal hei de aprender novamente tudo aquilo que deixei de lembrar

Então, quais novas perguntas devo formular agora, coração
Tu que renasceste-me assim, desprovido de desejos?

Não me tiraste a memória, não me tornaste um mistério
Mantenho a consciência do que fui... Ainda sou tão vívido

Porém, temo que aquele que recordo aqui tenha ficado lá
Naquela mesa fria onde mãos estranhas deitaram-no nu

E rasgaram-lhe o peito como se aquilo fosse,
Em plena segunda-feira, a coisa mais corriqueira do mundo.


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