Retirantes, Portinari, 1944
Seca braba, dos
seiscentos,
Mundo velho
esturricado.
Rasga mortalha roucou.
O jegue, mal segurado
nos ossos
Dobrados, tropeça ermo
nas canelas
E de boca vai ao chão,
lascado - Crend'eus Pai!
De dia, calorão
- Ô fome.
De noite, litania
- Sai visagem.
Olhos turvos e gretados
No terreiro, assuntam
um redemunho:
- Vôte, crend'eus pai
treis veiz!
Dos dedos gastos dos
meninos
Tomba mais uma porta:
- Tomém, num tinha
serventia.
No oco da sala, duas
trouxas esperam
Arriadas nos cambitos
das meninas
- Tadinhas das mi'as
fia, dá dó.
- Dessa vida levo nada,
é pó:
Osmarina, Geralda,
Dasdô
Celestino, Casimiro e
Nicanô
- Vamo, Belé, vamo
estradá.
Dois passos cada um
deu, a custo:
Tiveram que estancar,
no susto.
Medonha, uma voz vem de
trás, agônica:
A cintilar coriscos nas órbitas absortas.
A pau a pique geme sob impacto da mágica.
- Vô ficá aqui
suzinha, a mercê desta agonia?
No batente que em antes
tinha porta
A miséria, tesa, fina e fria,
suplicava companhia.
Belo,lírico, duro, com cheiro de gente e de terra. Gostei que só!
ResponderExcluirParece que estou sentada com meus primos arredor do Pai Correia ouvindo está mesma historia de aginia, vontade sobreviver a ao mesmo tempo de que se acabe logo num piscar de olhos, ficar não adiantava, ir talvez melhorasse, era a esperança de quem ia e a dor do abandono de quem ficava para traz sem saber até quando resistiria.
ResponderExcluirForte tudo e verdadeiro em tempos passados, conto contado com alma de quem viveu por tudo aquilo ou teve um narrador muito bom e absorveu tudo com muita atenção.
Íris Pereira.