Triple Elvis, Andy Warhol, 1963
lá
vem a guerra
pontual
bater
outra vez
a
minha porta
lá
vem a guerra
com
a bandeira da paz
(paz
é que nem jesus:
palavras
apenas
usadas
em vão)
lá
vem a guerra
assídua
mais
uma vez bater a minha porta
exigir
minha adesão
e
ousa a molambenta, esculhambada
desdentada,
muxibenta
irmã
da fome e da miséria
falar
em nome da liberdade
do
dever, da responsabilidade
porque
não há nada mais cívico
e
patriótico que a guerra!
lá
vem a guerra
rotineira
e infalível…
ai
de mim se digo não
à
sua lengalenga
viro
traidor
da
pátria, dos bons costumes,
da família e da propriedade…
lá
vem a guerra
indispensável
perder
tudo que é nosso
em
nome de uns tais princípios
que
não vale para os outros…
– ah,
sim os outros
são
sempre os outros
o
lado de lá
o
inimigo… range os dentes
a
estridente guerra
ao
mencionar
aqueles
que não devemos mencionar
e
fala horrores
e
simula chiliques
desenterra
recalques
atiça
temores
e
aviva rancores…
agirá
assim
quando
amanhã,
essa
ferramenta darwiniana
a
serviço do progresso dos povos
livres,
leves e soltos das democracias exemplares,
for
a vez de bater a porta dos outros?
lá
vem a guerra
mais
uma vez
impecável
indubitável
irremediável…
e última.