Bottle of Vieux Marc, Glass and Newspaper, Pablo Picasso, 1913
Dia
954
Não para de crescer o
movimento dos descontentes com o rumo das coisas. Os mesmos
interesses econômicos e comerciais que guindaram o excrementosíssimo
à cadeira presidencial, são os mesmos que agora o querem fora do
Palácio do Planalto (e da política), o mais urgente possível. Mas
o incrível é que empresários, militares, gente do agronegócio,
além de deputados e senadores, ninguém
cogita o impeachment do sujeito. Até
o Lula é contra. Fala-se
algo menos “doloroso” - um
afastamento para tratamento de saúde. É por
aí, o
jeitinho brasileiro a
mover
os
pauzinhos,
em mais uma jogada de
mestre
para
que as placas tectônicas do sistema se acomodem sem trauma. No
fundo,
todo mundo quer chegar em 2022 com as unhas
afiadas, pouquíssimas lesões
e, se possível, livre
da máscara.
Dia
37
A
turma que subiu ao pódio da canalhice por obra e graça da
mesquinharia nacional, gastou saliva odienta falando de uma tal
caixa-preta do BNDES, que era preciso abri-la e coisa e tal…
Fizeram disto um cavalo de batalha e acabaram por contatar dois
escritórios de investigadores internacionais para realizarem uma
devassa em vários contratos do banco. E
o que encontraram? Nada, nadica de nada. Todos os contratos
existentes foram firmados dentro da mais completa lisura. E aí vem a
bomba: Os sherlocks, após exaustivas pesquisas, apurações,
raciocínios dedutivos, fala daqui, ouvi dali, confere isto, tica
aquilo… produziram um relatório de 08 (OITO, eu disse oito,
o-i-t-o, 5 mais 3, 6 mais 2, 4 mais 4, 7 mais 1… sacaram?) singelas
páginas onde afirmam, em letras garrafais, não existir nenhum
esqueleto dentro da caixa denominada preta do BNDES. Todo este
vira-e-mexe saiu por nada mais nada menos que a bagatela de 48
milhões de reais, fatura que o Tribunal de Contas da União não
consegue explicar nem com reza braba. O Brasil, atualmente comandado
por lunáticos, dementes, esquizofrênicos e psicopatas, sem choro
nem vela, morreu em 48 milhões de reais por 8 (OITO) páginas de
papel sulfite tamanho A4 que certamente encontram-se esquecidas
nalguma gaveta palaciana (se não foram jogadas em alguma lixeira).
Só no país tropical bonito por natureza é possível que gente
desqualificada, desmoralizada e desacreditada torre dinheiro público
para provar que são, de fato, desqualificados, desmoralizados e
desacreditados.
Dia
543
A
guerra híbrida segue em curso e se desdobra: temos aí a “guerra
comercial” entre os EUA e a China. Em jogo, o domínio da
tecnologia 5G pelo mundo afora além da supremacia militar na Ásia e
no Oceano Pacifico. A
China é uma superpotência, inegavelmente. Em 60 anos, saiu de uma
realidade medieval e agrícola para alcançar o patamar de potência
industrial, comercial e científica. Os EUA, guardiões do livre
mercado, não aguentam conviver com este concorrente à altura. Os
valentões do velho oeste, e seus capangas, passaram então a
fomentar a xenofobia ao apregoarem que o mal estar causado por um
vírus que produz pneumonia e leva à morte os indivíduos infectados
é obra da genialidade chinesa em busca do domínio total do mundo. Em
vez de solidariedade, o governo Trump declarou que nada faria contra
a pandemia porque os chineses já estão fazendo o que é preciso —
um modo de dizer que não vai mover uma palha para evitar que mais e
mais norte-americanos e cidadãos pelo mundo afora morram à míngua.
Enquanto isto, a China constrói um hospital para 1000 leitos em 48
horas.
Dia
Zero
Quando
o fascismo, associado aos liberalistas econômicos e pentecostalismo
de resultado, conseguiu estabelecer velocidade cruzeiro na tarefa de
dominar o mundo… No dia 31 de dezembro de 2019, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de pneumonia
na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República Popular da
China. Uma semana depois, em 7 de janeiro de 2020 as autoridades
chinesas confirmaram que haviam identificado um novo tipo de
coronavírus, o SARS-CoV-2, transmissível por morcegos, capaz de
causar a morte de seres humanos. Segundo uma estimativa do jornal The
Economist, é possível que ocorra entre 7 a 13 milhões de óbitos,
algo comparável às mortes durante a 1ª Guerra Mundial. Dois anos
após o início da pandemia, entre vacinas, vacilos, cuidados e doses
brabas de negacionismo, um novo normal tornou-se uma perspectiva
remota. O mundo, como conhecíamos, desde aquele dia já era.
Restaram apenas algoritmos sacanas e a uberização da vida.