sábado, 1 de novembro de 2025

Adoro uma encrenca... dramatúrgica

 

 Edipo e a Esfinge, Gustave Moreau, 1864

 

Quem não gosta de ler um conto, romance, assistir a peça de teatro, um filme ou capítulo de série, cujo roteiro apresenta uma boa encrenca a ser resolvida?

Considero o momento mais prazeroso de uma obra literária ou cinematográfica quando vejo o protagonista envolvido numa situação conflituosa aparentemente sem solução - beco sem saída, poço sem fundo.

É aqui onde me sinto chamado a participar da obra. É aqui onde sou chamado à razão pois, após ter sido envolvido emocionalmente, preciso pensar numa saída.

E quando meu raciocínio se encontra com o raciocínio do autor, sou invadido pela sensação de que minha criatividade e inteligência me capacita a enfrentar os piores reveses.

Sinto que nestes momentos de fruição artística me torno apto para, sob qualquer ameaça, ser capaz de sobreviver e sair da encrenca, um pouco mais potente, pronto para novos desafios.

Mas esta sacada levou tempo para ser maturada. Ainda sou do tempo onde se acreditava no "deus ex machina", na solução que surgia, não sabia bem de onde, e que acabava por atribuir à intervenção divina.

Cresci, aprendi um pouco mais sobre a natureza humana. Ainda hoje observo obras com soluções aleatórias, ao acaso, mágicas... e tem aquelas que recorrem à soluções ideológicas... mas aprendi que a obra de arte não deve mais refletir apenas um aspecto do ser humano, mas a sua complexidade.

Ser complexo, para mim, significa convocar o outro para participar da criação, ativamente, visto que a obra de arte não é, apenas um produto da inquietação individual mas resultado da consciência coletiva que nos projeta além do eu.

Embora existam autores, os verdadeiros encrenqueiros, que insistem no seu ponto de vista e que impede a participação na obra além do que eles próprios propõem. O que reforça a ideia de que o mistério é o que existe de mais atraente.


 

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