sábado, 15 de dezembro de 2018

dança de viver


Dance, Jean Arp, 1925



cheiro de almoço
arroz e sal
no alho preparados
leve-me de arrasto
até minha mãe
e soltem-me
na montanha da saudade
de um tempo que não tem mais jeito

hoje de manhã acordei disposto
a cumprimentar
todos os meus contatos
mas infelizmente
topei com um texto
que me jogou no colo do papa
e fez de mim um pervertido
domesticado amante
de tudo aquilo que me constrange

mas amo a vida mais que tudo
apesar de saber que expiro a cada instante
ainda sonho

assim
quando apenas me restar
um pingo das últimas lembranças
amigos
sejam generosos
digam que fui tudo
ou alguma coisa
menos uma pedra no caminho

pois o dia que mais gosto é o dia de pensar em ti
meu bem
o dia que lembro de todos os teus encantos
amor
o dia que faço de mim esse romântico
esse aspirante que almeja
sobrevida
mas felizmente é impedido pela lógica

e se não há propósito
algum
nesse negócio de existir
(que não seja chegar a um tranquilo termo
o que ajuda muito no comércio de viver)
ainda é possível
e de bastante utilidade
debruçar sobre o caos
e contemplar a si mesmo
(o tal nó da questão)
pois aquele que ignora
deve sondar os mistérios do seu mar
certo que naufrago retornará diferente
na pele de outrem
a nos questionar como pode alguém ser feliz
sendo outro
essa invenção...

deus das minhas tolices:
só vos peço que me deixeis acabar
ao lado dos bêbados e das prostitutas
os últimos
dessa noite
que todo dia me assola



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