sábado, 31 de março de 2018

programa para uma política majoritariamente sem vergonha



Horse Political, Alexander Roitburd, 2009




  • coloque-se acima de todos, com uma boa margem de segurança (não interessa como)
  • bote um deus no coração e a classe média no bolso
  • divida o mundo entre mocinhos e bandidos
  • invente um bode expiatório e fixe nele a pior imagem de si mesmo
  • persiga pornograficamente uns e blinde desavergonhadamente outros
  • distribua botons com a bandeira da ordem, da pátria e da família
  • demonize as minorias
  • culpe sempre a vítima
  • terceirize a morte de, pelo menos, um pobre por dia
  • humilhe, sem trégua e sem remorso, os sobreviventes até que desistam de si e passem a acreditar que, longe do teu tacão, não existe salvação
  • dissemine ódio e nojo a tudo que lhe for contrário
  • jamais preste contas dos teus feitos, afinal o indivíduo é livre para fazer o que bem entender e, pensando bem, ninguém paga tuas contas
  • mantenha e aprofunde o sistema de classes e a isto chame de meritocracia
  • transforme em virtude todo que for banal, venal e/ou imoral
  • injete montanhas de recursos, a fundo perdido, numa mídia que infantilize e imbecilize o maior número de mentes disponíveis
  • sempre que fizeres um mal feito, aponte imediatamente o mal feito do outro
  • dê rédeas soltas ao sistema judiciário, ao complexo militar e, principalmente, ao capital estrangeiro e seus derivados
  • para satisfação das massas tenha sempre à mão: sexo, drogas e muita música chiclete
  • possua uma trupe de exímios especialistas que prove por a mais b que toda riqueza tem dono e por isto TUDO deve ser privatizado
  • nunca brigue suas brigas, mande sempre alguns pistoleiros, e/ou pelotão de choque, resolver a questão
  • desdenhe, mas desdenhe com gosto… fale mal, cuspa diariamente na mão que te alimenta, para que nunca te acusem de conivência com o atraso, com a ignorância ou com o subdesenvolvimento
  • jamais assuma tua torpeza (ou erros de português), porque o segredo do sucesso é acreditar piamente na própria mentira (sem contudo morrer por ela) 



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