sábado, 7 de outubro de 2017

delírio matinal 17º dia


Mother and Child, Honore Daumier, 1865


minha pátria
rude e hostil
é uma fantasia
conservada em gestos e palavras
que tanto aviltam o poema

mas não sabe que é quimera
esse fantasma indelicado que é a minha pátria
e como assombração
só descobrirá o quanto pesa sua nutrida ilusão
quando o delírio da prole cavalgar um vento
expresso em verso em alguma língua morta

ah, minha pátria, essa dona
não faz ideia
do quanto atordoa
esse seu vocabulário
de patroa

e os desfazimentos dos meus rastros
e as insídias ao meu cansaço?

oh, minha pátria intermitente
sempre útil e desamada
que abomina o meu compasso 

pátria minha, bonitinha
tão novinha, tão fresquinha
e tão ordinariamente postergada

sabes de que são feitas essas mãos calejadas
que tanto te fatigam?
e esse engatinhar claudicante
que tanto te entoja?
e esses sonhos destinados à inconstância...
tens ideia de que matéria é feita a nauséa
que habita tua bem-aventurança decantada
decretada pela síndrome de Estocolmo?

dorme, pátria minha, dorme
inimiga minha
dorme, minha chama
antes que acordes o dia
e soberana
ateie fogo na casa
e nos imponha
dançar
abraçados aos teus dramas




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