sábado, 2 de julho de 2016

Três Fábulas

The Flabed Garden, Conroy Maddox, 1939



I

O menino e a menina eram coleguinhas de escola, numa cidade do interior de um grande e adiantado país. Um dia, entre os dedos da menina, o menino viu uma lapiseira. O menino olhou torto para a menina e elogiou a lapiseira. A menina sorriu e disse que a mãe dela a tinha dado. O menino então perguntou de onde vinha o dinheiro com o qual a mãe dela comprou a lapiseira. A menina disse que tinha vindo do trabalho dela. O menino insistiu: e quem tinha dado trabalho pra mãe dela? A menina, baixou os olhos e disse que o pai do menino havia dado o trabalho, no qual a mãe dela ganhou um dinheiro para afinal comprar a bonita lapiseira. O menino encheu o peito e exigiu a lapiseira para si porque havia sido o dinheiro do seu pai que comprara a lapiseira. A menina chorou e contou tudo pra mãe que, revoltada, pediu justiça. O pai do menino disse que aquela atitude não contribuía para a ordem e a paz na cidade e exigiu que o juiz ordenasse à diretora que expulsasse a menina da escola.



II

A China, certa vez, foi assolada por uma seca braba. O vice-rei encarregado dos negócios religiosos, queimou o estoque de um ano inteiro de incenso, na esperança de comover o coração divino. Mas o deus não estava nem aí para a súplica e as preces. Após muitos orações, ritos e oferendas, não obtendo resultado, o vice-rei entendeu que era inútil qualquer gesto. Ordenou então que o deus fosse informado que se não chovesse até determinado dia, que fosse procurar fiel noutra freguesia. E a chuva não veio. Indignado, o vice-rei proibiu adoração ao deus insensível e mandou destruir seu santuário. Quando as primeiras marretadas sobre as paredes do templo se fizeram ouvir, começou a chover. Primeiro um chuvisco, depois foi aumentando, aumentando, até virar uma tempestade que durou pra mais de mês. Quando estiou e as águas baixaram, cidades, casas, plantações, animais e a maioria da população tinha desaparecido.



III

Lá pras bandas de Pernambuco, um dia, uma cabra muito esperta foi comprada por uma dona, na feira do povoado. A mulher, grávida de gêmeos, trazia os peitos fartos, inchados de tanto leite. Mas temia que para os filhos, viesse a faltar alimento. Tratada com estimação, a cabra passou a zanzar pela casa como se fosse um membro da família. Finalmente, a mulher pariu dois meninos parrudos e comilões. Mas o leite dela não secava, jamais veio a precisar do leite da cabra que, daí em diante, toda noite, vinha devagar pra beira da cama da mulher e, após ela ter amamentado os meninos, aproveitava pra sugar um bocado do líquido generoso. A mulher, na madorna, pensava que era um dos meninos gulosos e não ligava. E a cabra bebia, bebia, bebia até não querer mais. E engordou, engordou, engordou até que o pai dos meninos achou por bem servi-la como prato principal no primeiro aniversário das crianças.  


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