Batucada, Carybé, 1951
O
mais difícil não é um ser bom e proceder honesto,
dificultoso
mesmo é um saber definido o que quer
e
ter o poder de ir até o rabo da palavra.
Guimarães
Rosa
Grandes Sertões: Veredas
Vivi um tempo bom
Errado muitas vezes,
erros credos, erros crassos
Erros de corar o
guarda, de envergonhar deputado…
Mas tive o
privilégio da presença poética política
Trindade
xamânica-orgânica-romântica: Chico, Caetano e Gil
Três bardos em um,
três homens amados e uma mesma mulher
Amante irmã unha
carne corpo alma destino, nós zilhões, comuns
Que fugimos da
cegueira como o diabo da cruz, focados no futuro
Instante que não dá
nem dará deus a nós chovedores aprendizes
Mestres da refletida
alegria e da tristeza partilhada na saudade
Banda Expressa do
lado de cá, abaixo do Equador
Bossa e balanço,
arranha-céus iê-iê-iê folhetim e festivais…
Vivi um tempo bom
Serra Maestra,
Caribé, Darci Ribeiro e o velho Teotônio
Adeus às armas
companheiros e a aposta na transição
Lenta, gradual e
segura, nesse particular conversa morena
Cantiga inzoneira a
levar-me de volta para casa onde Elomar
O idioma sublime da
caatinga me faz chorar abraçado ao meu quinhão
E que nem
Mastroianni numa fita do Fellini finalmente
Tudo me será
acrescentado: Ariano, Amado, Pessoa, Drummond, Bandeira,
Calvino, Machado,
Graciliano, Borges… Na minha Ilhéus desconhecida,
Vitória da
Conquista glauberochiana das multiplicidades cozidas
No atávico tempero
astuto das princesas que descem a ladeira
E empoderam os olhos
dos plebeus que leem Neruda em plena praça…
Vivi um tempo bom
Animado por esse
júbilo, pobre que seja, cético assim
Desse jeito
improvisado, improvável, impossível
Esse amor que
deságua nos verdes mares dos meus olhos
Maravilhados veem
Merlim e Morgana entrelaçados partirem
Na direção do
depois, Lampião e Bonita naquela estrada
Estrela além do
além, Peri e Ceci imortais demais para esquecerem
De tanger toadas de
cometas em finais de campeonato disputadíssimas
Na travessia desse
longo dia, folego do amanhã, Carnaval quântico,
Últimos tempos
poéticos, nós, artistas todos, nascidos e renascidos,
Na utópica Iracema,
Rapa-Nui fixada no céu, minha escola,
Pártenon inevitável
de Todos os Santos, São Saruê amém…
Vivi um tempo bom
Eis aqui uma doce
profecia.
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