sábado, 28 de novembro de 2015

O Ex-Futuro

The mysteries of the horizon, Rene Magritte, 1955



"Todo o meu sangue raiva por asas
Alberto Caeiros, Ode Marítima



Está difícil o horizonte alcançar o outro lado da rua
Pouco provável que ultrapasse essa calçada estreita…
Se prestar atenção nesta indigência partiu sanidade.

A impostura, o descarado manto da vulgaridade,
O costumeiro medo e a comezinha ignorância,
Têm-nos reproduzido em suspiradas prestações.

De tanto agonizar a crise dita os proclamas
E o suicídio político não nos deixa escolha:
Ainda existe demanda para o vírus de ponta
E danem-se os custos de centenárias sequelas.

Haverá alguém que passe batido diante da antivida apregoada
Pelos zeladores da conduta alheia por suposto mandato divino;
Haverá alguém que se engane com a esperteza desses cínicos
A proclamarem acordos, pactos, coligações, alianças e negociatas,
Diante da nossa extravagante necessidade de sermos pilhados;
Existirá alguém que gargalhe diante da imbecilidade ilimitada
E esse jeito desgovernado de conduzir as coisas…? Impossibilitado amanhã!

É que somos superficiais e nos orgulhamos disto. – É nossa virtude.
Mas, aí de nós, quando arrotamos profundidade no supermercado das almas
Viramos piolhos, lêndeas irredutíveis em tingidos fiapos de cabelos
A imaginar quanto de vômito ainda descerá por nossas goelas
Antes que preparemos o sacrossanto churrasco do fim de semana embalado a vácuo.

Perdoem-me: É que adoeço ao ouvir bater à porta o celebrado ex-futuro.


Nenhum comentário:

Postar um comentário