Metamorphose Interrompue, Wolfgang Paalen, 1936
“Um bom começo é
sempre começar”
Toinho de Abdera,
in, To Fántasma tou
Kinímatos,
425 a.C
Temos intenções sobre
tudo, todos.
As minhas são claras:
apropriar-me, satisfazer-me e...
Devolva o resultado!
De preferência um pouco
mais desperto que antes.
Correndo o risco de
intoxicar-me, de criar um inferno,
Ergo o olhos e vejo
vocês, em última instância.
Não há como não pensar
em vocês,
Não há como não
levá-los em consideração.
Mesmo tu, hei tu! tu
mesmo, sim, tu, que estás tão longe, tu:
Que tem o poder de
devorar-me,
De impedir que a chuva
caia sobre a minha cabeça, até tu
E até tu que não vejo,
que não faço a menor ideia,
Que até desconfio, que
nem imagino,
Que não faz parte do meu
escopo...
Mesmo que tudo comece
aqui, há de terminar aí.
Dois pontos de uma mesma
curva.
Absurdo seria se isto não
fosse.
Então, por que o
espanto?
Meu singular e plural,
meu universo, assim.
Só tu pode dizer o que,
quem sou.
Autoimagem não é o
bastante.
É só um lado da coisa.
Viver no reino das
imagens excludentes, conflitantes, é drama.
Espelho que não
corresponde ao reflexo.
Reflexo que não
corresponde aos fatos.
Ah, como gostaria de
torná-los todos ricos, fortes e bonitos.
- Não olhes para mim
assim, torcido, nem faça de conta que não estou aqui, porque estou
aqui, bem aqui, então diga qualquer coisa, vai, diga, diga não,
aprenda a dizer não, não dói, não dói mesmo, diga, diga não,
não, não... Só diz não quem sabe dizer sim. Diga sim, vamos diga:
sim. Como é difícil dizer sim. E não. Sim e não. Não e sim. Eu
viveria uma eternidade se soubesse pronunciá-los. E morro neste
instante se não olhares pra mim.
(Viver é exercitar-se na
arte de controlar instintos. Aqueles nossos velhos. E hoje estou
completamente vazio de mágicas. Em busca de um motivo, senhores:
seguir um enredo, tatear no escuro, encontrar o interruptor,
descrever detalhes, criar conflito, desenlace, ficar na
expectativa... Ó começo, meio e fim! Não necessariamente nesta
ordem. Apenas metódico e sistemático. Na altura e na largura. Na
superfície-profundidade, quantas dimensões existem? Existem tantos
universos quantos conjuntos matemáticos? Não são estes a prova
daqueles? Este desafio posto diante da página em branco poderá
levar-me a qualquer lugar só para dizer: taí... Tôaqui. Mesmo que
escape sentido. Fazer ou não sentido? Eis. Uma ordem. Uma direção.
Um caminho. Uma ilha onde aportar, finalmente. Tudo se resume. Isto
é. E eu sei o quanto é duro fazer isto tudo sozinho. E eu sei o
quanto é penoso fazer isto pra ninguém).
- Dá-me, senhor, uma
história. (Cuidado com as palavras!) Uma simples história. E eu
moverei o mundo mesmo que à base desta metafísica poética afinal
não tenho (Atenção!) vocação pra nada. Mentira: aprendi a
desenhar.
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