quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A Casinha Branca no Alto da Colina

Idílio, Tarcila do Amaral, 1929

Para fazer poesia, confesso
Devo estar bagunçado
Un animal dans la tête...
Pressões batendo à porta,
Beira do caos, desespero, asilo...
E os braços nus dessa pagã, minha outra.

Minha vida é habitual demais
Para ser lírica.
Minha vida é ordinária demais
Para ser poética.

Turista eterno nesse porto,
Penso a poesia
Qual uma casinha pequenina
Na colina em que me escondo.

A minha poesia, este castelo de cartas,
Não resiste ao peso da matéria
Insustentável, impermanente, instável
Contingente é a minha poesia.

Não tem dia, não tem hora,
Não tem lugar a minha poesia.
Erma, despovoada, silenciosa e só
Vive a minha poesia.

Por isso a visito vez em quando
Em momentos de maior necessidade:
Instantes de pobreza extrema,
De carência, nulidade
Principalmente de impotência
Diante da insídia e iniquidade.

E sendo breve esse hálito terno, calmo
Repudio o que deve ser repudiado
E afirmo o que deve ser afirmado.

E logo adeus... um beijo tênue
Me despede sóbrio...
Retorno ao mundo, o mesmo
Desacostumado de tudo.


4 comentários:

  1. E eu aplaudo por dizer o que,às vezes, sentimos e não conseguimos expressar com tanta argúcia e beleza. Lindo!!!

    ResponderExcluir
  2. Emoção e sensibilidade unidas para fazer poesia de alta expressão.
    Texto belíssimo!

    ResponderExcluir
  3. Finalmente nos entendemos quanto ao que digo voar.
    Que coisa magnífica meu rei, é tudo isto, é ser a própria incompreensão, é fazer o que não está projetado, é fazer é ser tudo e nada, é ser grande e pequeno, é estar e não ser notado...
    Adorei.
    Tu mudastes ou eu que estou mudando?
    Beijos meu rei.
    Íris Pereira

    ResponderExcluir
  4. Teu blog está lindo, notei que destes uma mudada, obrigada por colocar meu link, é exatamente disto que precisamos, sermos conhecidos, pelo menos eu que nada sou, ( ainda ), pois você ainda me chamará de rainha.
    Íris Pereira

    ResponderExcluir