domingo, 24 de outubro de 2010

Março

Houve um tempo em que os reis andavam no meio do povo, estimulando as pessoas a viverem sem hostilidade e a conviverem em harmonia com a Natureza. Nessa época, as sombras não assediavam os humanos pois o governo era exercido com humildade e todo conhecimento estava voltado para tornar a vida menos atribulada. Os maus elementos não prosperavam, pois todos eram influenciados a mudar para melhor.

Conta-se que certa feita, o Duque de Yon, visitando sua província, deparou-se com um homem sentado na entrada da sua casa, coberto de trapos e chagas. Tudo em volta era ruína e desolação. Os campos tomados de ervas daninhas, o curral abandonado e o celeiro vazio. O campones estava só e chorava a miséria que se abatera sobre ele após ter contraído moléstia paralisante que já levara sua família ao túmulo.

O duque apeou do seu cavalo e convocou seu estado-maior para uma reunião de emergência, ali mesmo, na beira da estrada. Após rápidas considerações, ficou acertado que um destacamento cuidaria de recuperar tudo que fosse possível e providenciaria o que faltasse para o bom desempenho da fazenda. Ele próprio, o duque, iria cuidar das feridas do homem e dali não sairia enquanto não o visse gozando de boa saúde, apto para tocar os seus próprios negócios. Uma equipe foi formada para investigar a causa da moléstia, os meios para controlá-la e formas de erradicação, já que não era apenas aquele lugar que estava ameaçado mas toda a província e também os seus vizinhos, próximos e distantes, caso aquele mal se espalhasse. Mensageiros foram enviados aos quatro cantos do reino, para darem ciência do que acontecia naquele remoto ponto, conclamando a todos aqueles que, porventura, detivessem algum conhecimento que pudesse contribuir para a rápida solução do problema, para dirigirem-se imediatamente àquela localidade.

Algumas semanas depois, com a causa da doença descoberta, maneiras de prevení-la elucidadas, a fazenda plenamente recuperada, viu-se nos olhos do campones um brilho de saúde e confiança. Os muitos que acorreram, com seus préstimos e sabedoria, trouxeram também novas e urgentes necessidades, no que foram ouvidos e todas as providências diligenciadas.

Concluída aquela primeira etapa da sua viagem, o Duque de Yon, rendeu homenagens aos antepassados ao perceber que aquela forma de governo sem sede fixa havia sido uma boa escolha e continuou sua jornada em direção aos problemas e às suas aguardadas soluções.


4 comentários:

  1. Fabulação que aponta a realidade, dentro da melhor tradição da literatura.

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  2. Um dia...um dia...teremos um reino assim!

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  3. Muito boa literatura para se ler no dia mundial do livro.
    Não espero meu reino eu faço o meu, mas o que eu não faço? eu posso tudo, ou quase tudo, quando estou com minhas asas.
    Saudades de ti, não gostas de orkut ou msn? Quero mais vezes, você por perto
    Iris Pereira

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  4. Meu agradecimento vim trazê-lo aqui pois podes ficar muito tempo sem precisar de afeto:
    Obrigada Paulinho. Tenho outros espaços onde podes me encontrar com mais freqüencia, não que esteja desejando que precise de afeto, mas eu sou tudo isto que você ler e entende tão bem. É incrível como me conheces só através do que escrevo, acho que é por ser tudo tão simples e verdadeiro. Não tenho conhecimentos suficientes para florear o texto.
    Procure-me e tente ler os textos mais antigos.
    Um abraço e um beijo gracioso

    Íris Pereira

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