quarta-feira, 9 de junho de 2010

O Monstro e a Lagoa Verde

À la Nerino de Campos

Generosa, abarrotou minha caixa de entrada com mensagens ansiosas e vadias...
Paciente, estudou criptografia apenas para entender meu sistema de senhas...
Angelical, abriu meus arquivos à procura de uma desavisada página...
Solícita, sacudiu cada livro meu à caça de uma pétala morta ou papel de bala...
Meiga, somou todas as letras do meu nome para sondar meus desejos secretos...
Diligente, soldou uma aliança ao dedo como se illo tempore estivera escrito nas estrelas...
Previdente, auscultou meus sonhos à cata de segredos inconscientes...
Perspicaz, seguiu meus rumos através dos postes tal fosse eu aquele de flor na boca...
Compreensiva, antecipou-se às minhas esquinas com olhares furtivos e ladrões...
Animada, examinou meus bolsos à procura de enigmas e mistérios…
Justa, cheirou minhas roupas em busca de desconhecidos e inimagináveis perfumes...
Lógica, interrogou meus passos em busca de inventadas pistas...
Digna, fixou aquele olhar de censura à minha suposta devassidão...
Decidida, matou-me numa manhã de agosto com uma dose cavalar de sarcasmo...
Altiva, confessou-se numa sacristia de subúrbio a amaldiçoar ad nauseam o dia que me conhecera...
E, inocentemente, passou a apregoar aos quatros cantos que fora das minhas mãos lúbricas que experimentara o pão que o diabo amassou.


2 comentários:

  1. Paulo Laurindo,
    Muito bom o seu texto. Foi uma hora ele ter sido escrito à la Nerino de Campos.
    Um grande abraço,
    Nerino

    ResponderExcluir
  2. Belíssimo.
    Agora, não sei se teu ou de Nerino, mas muito me lembrou as escritas de Chico Buarque.
    E agora? rs..

    ResponderExcluir