sábado, 20 de abril de 2024

O Xadrez Social

 

The Chess Player, Corneliu Baba, 1948



De um lado as Forças do Progresso: comunistas, socialistas, trabalhistas, social-democratas, anarquistas, ecologistas, ateus, agnósticos, cidadãos de todos os credos e cores engajados na defesa dos interesses dos menos favorecidos, na luta contra a desigualdade, a opressão, a discriminação, na afirmação prática da regra de ouro: “não faças ao outro aquilo que não desejas para ti”…

Por outro lado, as Forças da Reação, apoiadas pelo grosso das forças armadas, profissionais da violência, milícias, judiciário, ministério público, mídia oligopolizada partidária e dependente, banqueiros, capitalistas, seitas apocalípticas, oportunistas de todos os quilates, uma pancada de gente fodida que dissemina desinformação, mentiras, teorias da conspiração paranoica e que enaltece a hegemonia de um estado fundamentalista nos costumes, liberal na economia e totalitário na política, sob a sombra de Ronald Reagan, Margareth Thatcher, Pinochet, Darth Vader e a Estrela da Morte…

E, no meio disso tudo, o povo.

E o que deseja o povo? Nada demais… Casa, comida, carro, computador, celular, televisão de plasma, encher o carrinho de supermercado uma vez por mês, viajar de avião, dinheirinho no banco para emergências, saúde e educação de qualidade, dignidade, cidadania, respeito, segurança, internet de alta velocidade a preço camarada…O povo quer viver o mais normal possível, tal qual qualquer classe média que se preze.

Afinal, não foi pra isto que, lá atrás, combinamos que a Justiça é cega, igual para todos, que o Estado é laico e que o poder emana do povo e em seu nome será exercido?


 

sábado, 13 de abril de 2024

mágica

 

Magic Mountain, Albrecht Behmel, 2016



a cada notificação abro

ansioso a tela do celular será


é a mesma expectativa

ao conferir bilhete de loteria


transcendental seria informar

a hora da minha morte


e se o meu amor soubesse

a verdade dos arcanos – viria?


porém não há mágica

que supere as vendas

 

no próximo toque quiçá

quem sabe não é… agora?!


 

sábado, 6 de abril de 2024

Acordei doido para mudar o país

 

Seated beardeb man, Roger de La Fresnaye, 1910


E se votássemos em partidos e não em pessoas… E se a cada eleição tivéssemos que votar sim ou não em questões do tipo: voto em lista, cotas (educacionais, partidárias, culturais…); liberação da maconha; aborto; taxação de grandes fortunas; imposto progressivo; educação pública universal e gratuita para todos e período integral de ensino; pagamento de impostos pelas igrejas; redução de partidos; reparação histórica aos negros e povos originários; transporte público gratuito; transparência das ações governamentais; desmilitarização das polícias; controle público do judiciário; profissionalização das forças armadas; fim do serviço militar obrigatório; serviço social facultativo; internet livre para todos; parlamento unicameral com representação proporcional à votação alcançada por partido em cada estado para discutir orçamento e questões de Estado; extinção de privilégios políticos; reforma agrária; renda mínima; salário-mínimo real compatível com o custo de vida; propriedade privada…?

Mas, após uma xícara de café, irrompeu pela casa adentro, com sua voz estridente, a minha manjada e rotineira sanidade a me avisar que estou atrasado, que a geladeira não se enche sozinha e do mesmo jeito que não existe almoço grátis, dinheiro não brota em árvore…

Num redemoinho de emoções, saio ao encontro do trânsito caótico cotidiano e, a oscilar entre a raiva e a melancolia, aguardo que um milagre venha me salvar do mundo e de mim mesmo.

Nenhum coach apareceu em meu socorro, o universo mais uma vez não conspirou a meu favor, não descobri o segredo de coisa nenhuma, já atentei contra minha vida umas trocentas vezes e eis que chego ao trabalho disposto a pedir demissão e dar um tapa na cara no chefe…

Mais um dia daqueles… arre! Passo o tempo sonhando em ganhar na loteria e me mandar para uma ilha deserta. Mas o lar me espera e após um miojo babado, bate aquele soninho, e sem alternativa, me lanço aos braços da minha doideira e durmo que nem um anjo… louco.