sábado, 11 de fevereiro de 2023

Crônicas Pandêmicas 3

 

Proclamação da República, Benedito Calixto, 1893


A Proclamação da República foi um movimento militar patético, um golpe frouxo dado em cima de Dom Pedro II, figura erudita, triste, que adorava fotografia e tinha grande apreço pela Ciência e Tecnologia (manteve extensa correspondência com alguns expoentes científicos do seu tempo).

Infelizmente, apesar de contar com apoio popular, perdeu o gosto pela pompa e circunstância da coroa e acabou por decidir largar mão de tudo e se mandar, pobre, para o exílio.

O regime instaurado, só fez acumular fracassos, tornando-se gerador de sucessivos governos fracos e incompetentes para tocar, por exemplo, o projeto de Brasil saído da cabeça do velho imperador que soube manter a estabilidade política e a liberdade de expressão por 58 longos anos.

Longe de mim, querer a volta da Monarquia, ainda mais olhando para os atuais descendentes reais, uma turma de carolas que não merecem sequer cheirar um peido do Dom Pedro (inventor, segundo a lenda, do maior passatempo brasileiro, verdadeira homenagem à astúcia e a esperança brasileiras: o nosso traquinas jogo do bicho).

Taí, entre as gangues milicianas atuais e os velhos capos da contravenção, sem dúvida nenhuma sou mais os presidentes eméticos das escolas de samba – muito mais honestos, coerentes, insubmissos e perfeitamente engajados com as coisas, os costumes das gentes brasileiras, nacionalistas genuínos, sempre desconfiados com relação a tudo que cheire ou venha do estrangeiro. Brizola estava certo.


 

sábado, 4 de fevereiro de 2023

lindeza

 

Três Músicos, Tony Lima, 2020




gente,

vivi pra ver e ouvir

Armandinho, Yamandu, Borghetti  

e a Sinfônica Jazz

na Sala São Paulo

(numa transmissão televisiva):

um deslumbrante desbunde

eita Brasil

poderes continuares lindo, tão?!




sábado, 28 de janeiro de 2023

a tragédia de um ninguém

 

I Can See the Whole Room and There's Nobody in It, Roy Richtenstein, 1961


incapaz de derramar uma lágrima

riu da agonia,

da dor,

tripudiou da miséria

e, alheio, sentiu-se ungido:

crente que teria sobrevida

além e acima do caos


ignorante da própria pequenez,

investiu contra tudo e todos

distraído da condição humana:

imperfeita, fraca, frágil… falível


eis que a munição acaba

e as mãos, unhas e dentes das vítimas

inscrevem na História

o patético fim de um arrogante


e esta pena assinala,

diante da eternidade,

a tragédia desse ninguém

condenado a viver atormentado

por seus delírios de grandeza