Os Portadores de Fardo, Vicent van Gogh. 1881
é
um fardo ser
eu
que já fui fardo para minha mãe
para
os meus amigos
para
os meus amores
que
passo boa parte do tempo
a
arrastar correntes fantasmagóricas
que
mesmo dificultoso
nunca
me deixei ir que nem pedra
ladeira
abaixo despencado
mas
ao contrário sempre insisti
em
empurrar morro acima
a
peso de ser eu…
almejei
ser pluma um dia
porém
o máximo que consegui
foi
esvoaçar vagabundo
feito
saco plástico
tangido
pela ventania
em
plena praça pública
silenciosa
e vazia
é
um fardo ser eu
que
nunca me molestei por minhas faltas
que
nunca encarei as minhas falhas
que
nunca ri da minha gravidade
que
nunca arremessei longe a carga
e
mesmo desconfortável
ainda
me dou tanta importância
ainda
me ufano das minhas pretensões
ainda
nutro esperança de um dia virar estátua
e
servir de cagadouro para pássaros