sábado, 30 de julho de 2022

fardo

 

Os Portadores de Fardo, Vicent van Gogh. 1881


é um fardo ser

eu que já fui fardo para minha mãe

para os meus amigos

para os meus amores

que passo boa parte do tempo

a arrastar correntes fantasmagóricas

que mesmo dificultoso

nunca me deixei ir que nem pedra

ladeira abaixo despencado

mas ao contrário sempre insisti

em empurrar morro acima

a peso de ser eu…


almejei ser pluma um dia

porém o máximo que consegui

foi esvoaçar vagabundo

feito saco plástico

tangido pela ventania

em plena praça pública

silenciosa e vazia


é um fardo ser eu

que nunca me molestei por minhas faltas

que nunca encarei as minhas falhas

que nunca ri da minha gravidade

que nunca arremessei longe a carga

e mesmo desconfortável

ainda me dou tanta importância

ainda me ufano das minhas pretensões

ainda nutro esperança de um dia virar estátua

e servir de cagadouro para pássaros


 

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