Eleven A.M., Edward Hopper, 1926
5.
Em
época de avanço da extrema-direita e do coronavírus, a série
Hunters
coloca uma pulga gigante
atrás
da nossa orelha. Somos levados ao centro da luta contra nazistas que
foram cooptados pelo governo norte-americano, por ocasião do término
da II Guerra Mundial e assumidos como “armas” na luta contra o
comunismo. Essa multidão de assassinos acaba
por assumir postos chaves na “terra dos livres e o lar dos bravos”
e
se dedica ao seu esporte predileto: preparar
o advento do
4º Reich.
Um
inocente xarope de milho, produzido por uma inocente empresa, fará
todo o trabalho: matar metade da população dos EUA e tomar o poder
na maior potência mundial. É aí que surge um grupo, formado por
judeus, uma freira, um ninja japonês e uma negra que, à custa de
muitos tropeços e feridas, consegue anular a meta da diabólica
conspiração.
Porém,
no último episódio nos invade uma incômoda sensação, que acaba
por colocar a série na categoria terror. Assistimos os minutos
finais, com a impressão de que, com certeza, não estamos a salvo,
nem mesmo entre os nossos (ou, em meio àqueles que lutam ao nosso
lado). A paranoia toma conta dos nossos corpos.
Daí
é de bom alvitre ficar atento com a mão que nos alimenta e/ou nos
cumprimenta, pois é possível esteja rolando um virusinho nas
relações ditas afetivas, amistosas e cordiais. Mas, que não se
perca a esperança: ainda existem avós e netos — os últimos
confiáveis, segundo os roteiristas. Por isto, fiquem atentos à
história da própria família e, sobretudo, coloquem-se em
perspectiva na luta da civilização contra a barbárie, afinal é
fatal ser pego com as calças nas mãos na hora que a jiripoca piar.
.x.
6.
Somos nossas circunstâncias. E aí, meus povos e minhas povas!…
lembram do lero-lero do Edu Lobo: “gosto mesmo de fulana mas
sicrana é quem me quer”. Pois é, criticar o povo brasileiro é
fácil, quero ver viver com salário-mínimo, sub ou desempregado,
sem-terra, sem teto, miserável… e com a mídia te manipulando, a
milícia te acossando, a polícia te matando, o agronegócio te
lascando, os políticos te roubando… Somos tão massacrados que
temos vergonha de mostrar a cara (como desejava o Cazuza). Mas, vai
vendo, uma hora a gente pega a preá. Uma hora a gente sacode a
poeira, dá a volta por cima e vamos jogar boliche com cabeças
coroadas (conforme desejo de um velho amigo) e partir pro banquete.
Por mim, bastaria aplicar a lei (e olha que temos carradas), simples
assim. Enquanto isto, salve Bacurau, salve Petra, salve Mangueira e
todos os tantos carnavais…
.x.
7.
O Luiz Felipe Pondé, dublê de filósofo e mungangueiro
profissional, bem que tentou vender a alma ao diabo, mas o capeta,
curto e grosso, recusou. Eduardo Bolsonaro decretou que não se
precisa ler livros para ser conservador (entenda-se extrema direita),
mas simplesmente dar audiência ao Alerta Nacional do Sikêra Júnior
— um verdadeiro mestre na arte de cancerizar geral e ainda sair com
um troco.