sábado, 4 de agosto de 2018

coisas que aprendi fazendo faxina


Robbe-Grillet Cleansing Every Object in Sight
Mark Tansey, 1981


é bom ter um plano de “ataque”…
recomendo visualizar e dividir as tarefas
de modo a realizar cada uma
despreocupadamente
(vale um serviço bem feito
e tu descansado ao final)
crie intervalos entre as tarefas
e se a tarefa for longa, faça pequenas pausas
(sobretudo se tiveres mais de 60 anos)
bote uma playlist pra jambrar
um ritmo que não te faça adiantar ou atrasar o andamento
e não esqueça as luvas de borracha (sugiro as cirúrgicas)
beba umas duas ou três latas de cerveja:
um pouco de anestesia
te fará esquecer algumas pancadas no dedão
jamais exija de ti perfeição, afinal
sempre haverá um teco de sujeira
que restará no canto da sala, atrás do armário
ou na última prateleira da estante
reza os bons modos que limpes tua casa sozinho
dividir a responsabilidade com alguém
pode embolar o meio de campo:
em se tratando de sujeira
cada um tem seus critérios acerca de limpeza
ah, cuide bem dos panos de chão
junto com vassoura, rodo, desinfetante
água e sabão, serão teus únicos companheiros
durante a jornada do caos à ordem
(frase da hora criada no calor do rojão: 
“se faxina rendesse Nobel
todo mundo faria pelo menos 5 dias por semana”)
agora, se tiveres outras coisas pra fazer
ou teu sangue não se mistura com o operacional
trate de usar tudo descartável
ou mande tua consciência pra casa do chapéu e
continue deixando tuas merdas para outros resolverem.



sábado, 28 de julho de 2018

sonho do meio dia



Água sonhando com chuva e relâmpago
Johnny Warangkula Tjupurrula, 1972



acordo repleto de esperança:
é hoje!

a expectativa acompanha
a manhã

a expectativa dura
a manhã

é que,
ao alcançar o zênite,
meus olhos inundados
descortinam o crepúsculo...

… quando os ponteiros atingem o limite
um pijama me veste…

enquanto
aguardo
paciente
o meio dia
sonho


sábado, 14 de julho de 2018

No oco do mundo




Olhando as Ondas do Mar
Neiva Passuello, 2008




Diante do oco do mundo
Perto de onde o rio beija o mar
Vi um diamante no interior das coisas
Escancarar as cores que escapavam dos meus olhos

Navegado em tons e gradações
Pensei em inventar uma praia
Porém uma criança veio sentar-se ao meu lado
Entoando uma estridente melodia 
Canção sem palavra, sem fonemas, sem sentido...

Perguntei-lhe o que era aquilo, do que se tratava
Sorridente, encarou o vazio dentro de mim
E sussurrou como se solfejasse feito um tenor
- Porque as coisas têm que fazer algum sentido?...

Vesti meu chapéu
Calcei meus botões
E caminhei através da onda
Até a mesa de jantar
Onde saboreei amendoins
Convencido que eram feijões