sábado, 21 de junho de 2025

subjetividade

 

Tales from the Loop, Simon Stålenhag, 2014


até onde sei (e vejo)

pessoas gostam de flores

plásticas…

tum-tum – ocupado!


ah, sonhei em ser origami

emoji dobrado ou hashtag…

tum-tum – sinal perdido,

poesia não encontrada!


(carregando 54%)

diante do erro 404

dissimulo ou me espelho

num botão de like?


último comando

executar #autodestruição:

desapareço ou me cancelo?


tum-tum erro 418:

sem dispositivo pra ser exibido

subjetividade desinstalada com sucesso

 

este poema se autodestruirá em 5 segundos!


 

sábado, 14 de junho de 2025

filho bastardo de cowboy hollywoodiano

 

Imagem gerada pelo Google Gemini


descendente de bandeirantes

capitães do mato, milicos, jagunços

milicianos high-techs, políticos de bolso

(com um livro de phantasmagorias

debaixo do braço)

crentes pragmáticos na divindade,

na pátria e na liberdade de expressar

que todo dia é dia de branco

e na festa no ap

vai ter sofrência pop e petiscos

servidos em baixelas de prata

do que sobrou do lombo dos negros

índios, pobres e periféricos


traficantes da fé alheia, coaches e influencers,

a soldo de casas de apostas aliciam

nubentes veteranas movidas a botox

para acasalarem com bons meninos de chicago

e conceberem in vitro

mais uma receita para estufar o bolo


incensados por animadores de auditório

nas tardes entorpecidas de domingo

um terço da população, inflada de patriotismo,

bate continência à entidade que empreende

mais um inferno ultramoderno

importado do vale do cilício

criado sob medida para os outros


ai de mim,

ai de ti,

ai de nós!


 

sábado, 7 de junho de 2025

Saída à Direita

 

Charge de Izanio Façanha, publicada na Coluna Esplanada (DF)

Com a colaboração do meu ghostwriter “Garganta Profunda” 

 

Era uma vez um alguém que pregava Lei e Ordem certo de que regras são como sardinhas: ótimas para os outros, mas ele mesmo jamais se sujeitaria ao cheiro.

Ah, os defensores da lei e da moralidade… até a lei chegar neles.

A mesma voz que estrondava “bandido bom é bandido morto” agora embarca, num avião da Patriot Escape Airline, rumo a um autoexílio regado a pix da malta — aqueles que babam por justiça seletiva e amam inventar malabarismos mentais para chamar covardia de heroísmo.

Porque o fascistoide de estimação nunca aceita o jogo quando perde. Se a democracia o condena, a democracia é “um erro”. Se a Justiça o alcança, a Justiça é “esquerdista”. Se a fuga é a única opção, então “Deus quis assim”.

Quando a Justiça — aquela entidade teimosa que insiste em funcionar de vez em quando — condenou “maria ninguém” a dez anos de prisão, ela não hesitou: “por que cumprir a lei quando posso criticá-la em live no interior dum apartamento de luxo emprestado por um bilionário, nos confins da velha Miami de guerra”?

Seus seguidores, é claro, logo encontraram explicações dignas de roteiro de filme B: “Está em exílio político, missão diplomática”.

E lá se vai ela, de mala cheia e princípios vazios, para uma terra de promissão e impunidade — porque patriotismo, no fim das contas, sempre foi só um disfarce para “minha vantagem primeiro”.

Enquanto isso, seus colegas de parlamento continuavam a votar leis “antifuga de criminosos” — uma ironia que, se for tempero, certamente estragará o feijão.

E o gado aplaude: “Coitada, vítima do sistema!” O mesmo sistema que ela jurou combater, até ele começar a funcionar.

A “maria ninguém”, agora “vítima ativista” internacional, posta fotos sorridente no seu “exílio”, enquanto condena “a ditadura da toga que assola o Brasil a soldo do comunismo. O detalhe? Seu visto era de investidora — porque nada combina mais com patriotismo do que converter dinheiro público em passaporte dourado.

Moral da história: Se a Justiça bater à sua porta, tenha um aeroporto de reserva. E, se possível, chame isso de “resistência”. Funciona.