sábado, 1 de julho de 2023

tempestade e bonança

 

A Tempestade, Ivan Konstantinovich Aivazovskii, 1899


tempestade à frente

sigo...

(ou talvez seja ela

que vem até mim)

nesse barco - casa frágil

de olho no horizonte

temporário

a interrogar nuvens mudas e

o jardim bonito...

 

suor e neblina

banham meu rosto... nada a ouvir

além do vai-e-vem derramado

sem hora de parar, estando...

 

cadê o sol que iluminava

os pacientes coqueiros

e dissipava a espera

em lúdicos instantes?

 

dizem que passageira é a estação

(tal qual a dor que me açoita

em pleno são joão)

diante do embate, estremeço

(clamo adiante das brumas

a ilha que antevejo)

e aguardo dos teus lábios 

o anúncio deste teu beijo


 


sábado, 24 de junho de 2023

sonho

 

Marine Les Equilleurs, Gustave Gourbet, 1870



 

construí um ninho
sobre as horas
para contemplar a brisa
que balança o mar
 
às vezes desejo
contra o vento
que você apareça
e viva comigo
todas as ausências
 
(memórias encenadas na varanda)
 
infinito é o espetáculo
que minhas retinas aplaudem
a menos que eu acorde


 

sábado, 17 de junho de 2023

foi Mainha quem me deu

 

O abraço de amor do universo, Frida Kahlo, 1949



o sol, a brisa
a praia e o mar
foi Mainha quem me deu

o sossego, a calma
a perspectiva da tarde
a noite e seu imponderável
foi Mainha quem me deu

o verde que surpreende
a chuva que refresca
os mosquitos que incomodam
e estas noites suarentas
foi Mainha quem me deu

o que seria de mim
se tudo que encanta
e aconchega
Mainha não houvesse sido?...

(e pensar que um dia
pela pisa que levei
imaginei matar Mainha)