brasil dói
soc, ai, pow, grrr, aiaiai, crash, zapt
bang, aaaiii, plof, crack, uiiii, paf
splat, ugh, bum, cabum
siiiirene, ratátátá
snif, snif
buá, buááá...
e quanto mais se explica
mais dói
esse silêncio -
gigantesco ruído
brasil dói
soc, ai, pow, grrr, aiaiai, crash, zapt
bang, aaaiii, plof, crack, uiiii, paf
splat, ugh, bum, cabum
siiiirene, ratátátá
snif, snif
buá, buááá...
e quanto mais se explica
mais dói
esse silêncio -
gigantesco ruído
Noemi
mesmo sem tempo,
(tinha que chegar na hora no trabalho)
todo dia, esbaforida
dava uma geral na casa
pensando numa possível noitada
com aquele colega de departamento
aquele tal do peitoral sexy
e promessa gostosa
de um prazer para além de todo sexo…
mas o que ela não pensava
é que não adianta
deixar a casa um brinco
se o mundo continua lixo
Noemi
de quantos e tais detalhes
cansada, acenava ao coletivo
e lá ia, encoxada, bolinada,
indiferente a tudo (menos ao nojo
e ao colega de departamento
a lhe atazanar os sentidos…)
no dia que encontrou coragem
o convidou para um café
mas ele a empurrou contra o portão
suspirou “ahhhh…”, a sufocar seu silêncio
num gozo alheio e
com a calça encharcada de gala,
se mandou pela rua afora
sem nem ao menos perguntar:
“foi bom pra ti?”
Noemi
ao devolver um dos seios para dentro da blusa
ergueu os olhos para o céu estrelado
ao tempo em que sentiu os pés
sobre o indiferente asfalto,
sussurrou para o vazio,
como se estivesse diante de um espelho estilhaçado:
– quem, diabos, inventou o sexo?
Natureza inquieta:
O frio e o silêncio humano
A tudo estremece
...
A mangueira e o vento:
As folhas frágeis esvoaçam
Hipnótica dança
...
Carência submersa:
Atiçam o descontrole
Cheiros e lembranças
no silêncio solitário do apê
apenas meu coração atribula
e barulha mais que o martelete
na construção ao lado
ah, a falta que me faz
uma palavra
um cheiro
aquele abraço…
dificil me acostumar
ao ruído
que ficou no teu lugar
coloquei minha angústia para dormir
e lá está, quietinha, numa tela
a enfeitar o corredor
porém, sempre que passo por ela
me ocorre possuir
quase ou nenhum talento
para pintura…
foi daí que inventei um anjo:
planos multidimensionais
cores que tagarelam
em meio às infinitas desculpas
e perspectivas esfarrapadas...
é que aqui em casa
busco não machucar o silêncio
torno possível
(mesmo desafinado) praticar
todo dia
uma velha canção de ninar