Mostrando postagens com marcador Silêncio. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Silêncio. Mostrar todas as postagens

sábado, 19 de abril de 2025

saga de um gozo

 

Caritas Romana, George Pencz, 1538



Noemi

mesmo sem tempo,

(tinha que chegar na hora no trabalho)

todo dia, esbaforida

dava uma geral na casa

pensando numa possível noitada

com aquele colega de departamento

aquele tal do peitoral sexy

e promessa gostosa

de um prazer para além de todo sexo…

mas o que ela não pensava

é que não adianta

deixar a casa um brinco

se o mundo continua lixo


Noemi

de quantos e tais detalhes

cansada, acenava ao coletivo

e lá ia, encoxada, bolinada,

indiferente a tudo (menos ao nojo

e ao colega de departamento

a lhe atazanar os sentidos…)


no dia que encontrou coragem

o convidou para um café

mas ele a empurrou contra o portão

suspirou “ahhhh…”, a sufocar seu silêncio

num gozo alheio e

com a calça encharcada de gala,

se mandou pela rua afora

sem nem ao menos perguntar:

foi bom pra ti?”


Noemi

ao devolver um dos seios para dentro da blusa

ergueu os olhos para o céu estrelado

ao tempo em que sentiu os pés

sobre o indiferente asfalto,

sussurrou para o vazio,

como se estivesse diante de um espelho estilhaçado:

quem, diabos, inventou o sexo?


 

sábado, 8 de julho de 2023

3Haikais

Jardim Cósmico, Aki Nuroda, 2011



Natureza inquieta:

O frio e o silêncio humano

A tudo estremece


... 

         

A mangueira e o vento:

As folhas frágeis esvoaçam

Hipnótica dança


 ...

 

Carência submersa:

Atiçam o descontrole

Cheiros e lembranças


 


sábado, 3 de dezembro de 2022

estática

 

Google Imagens




no silêncio solitário do apê

apenas meu coração atribula

e barulha mais que o martelete

na construção ao lado


ah, a falta que me faz

uma palavra

um cheiro

aquele abraço…


dificil me acostumar

ao ruído

que ficou no teu lugar


 

sábado, 18 de setembro de 2021

canção no ar

 

Great Still life on pedestal, Pablo Picasso, 1931


coloquei minha angústia para dormir

e lá está, quietinha, numa tela

a enfeitar o corredor


porém, sempre que passo por ela

me ocorre possuir

quase ou nenhum talento

para pintura…


foi daí que inventei um anjo:

planos multidimensionais

cores que tagarelam

em meio às infinitas desculpas

e perspectivas esfarrapadas...


é que aqui em casa

busco não machucar o silêncio

torno possível

(mesmo desafinado) praticar

todo dia

uma velha canção de ninar