Mostrando postagens com marcador Religião. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Religião. Mostrar todas as postagens

sábado, 14 de junho de 2025

filho bastardo de cowboy hollywoodiano

 

Imagem gerada pelo Google Gemini


descendente de bandeirantes

capitães do mato, milicos, jagunços

milicianos high-techs, políticos de bolso

(com um livro de phantasmagorias

debaixo do braço)

crentes pragmáticos na divindade,

na pátria e na liberdade de expressar

que todo dia é dia de branco

e na festa no ap

vai ter sofrência pop e petiscos

servidos em baixelas de prata

do que sobrou do lombo dos negros

índios, pobres e periféricos


traficantes da fé alheia, coaches e influencers,

a soldo de casas de apostas aliciam

nubentes veteranas movidas a botox

para acasalarem com bons meninos de chicago

e conceberem in vitro

mais uma receita para estufar o bolo


incensados por animadores de auditório

nas tardes entorpecidas de domingo

um terço da população, inflada de patriotismo,

bate continência à entidade que empreende

mais um inferno ultramoderno

importado do vale do cilício

criado sob medida para os outros


ai de mim,

ai de ti,

ai de nós!


 

sábado, 9 de novembro de 2024

sou anjo

 

São Mateus e o Anjo, Caravaggio, 1602


sim creio: sou um

alguns não são

uns mais que outros… e se deus

escreve certo por linhas tortas

todos, no fundo, o são

ou, pelo menos, dormem como tal

a religião o tempo todo nos diz como devemos viver dormir levantar escovar os dentes pentear os cabelos vestir roupa tomar café sair pegar trânsito bater ponto trabalhar almoçar trabalhar mais voltar pegar trânsito chegar em casa moído não falar nunca do que sente do que atormenta do que tá pegando porque o bicho pega sim quando pegar soltar os cachorros em cima da família porque todo mundo repete de olhos fechados que é preciso acreditar em mágica e a gente descrente acredita

nesse negócio de dizer que não somos anjos porque anjo nascemos e vamos morrer anjo mesmo que não cheguemos a nenhum céu porque já tivemos um

e prometem acabar com toda confusão crime piração engôdo mentira humilhação desde que tenhamos fé nas nossas ofertas e

acreditemos no dever combater tais coisas que atazanam o mundo

com tanta fé que penso que a coisa já estaria líquida e certa e a gente teria descoberto Xangri-Lá

que tá lá no sul lugar que nunca conhecerei porque não tenho condições de ser veranista que banca descanso sossego distância das tais coisas que falei

e isto basta pra gerar opinião sobre tudo como se fosse um dever como se viver fosse uma coisa só

e querem porque querem que seja assim mas é o caos assim tal qual uns conhecidos que exigem que a gente viva em ordem unida a bata continência para bandeira de país estrangeiro porque esse é o único jeito de resolver nossos problemas e só restará aquela velha ideia de que somos todos pecadores mas alguns são mais pecadores que outros logo…

sou anjo


 

sábado, 18 de novembro de 2023

Mural das Indiscrições XI

 

Forms in space, Fernand Léger, 1950



– A vida é boa, mas quando a gente morre sente saudade de quase nada.


– As cidades são democraticamente desagradáveis.


– Existem três brasis: o capitalista, o socialista e o degradado.


– A falha moral do brasileiro é que ele é solidário.


– Deus tem dado o frio conforme o delator.


– Todo brucutu tem autoestima elevada.


– O capeta só possui quem nele acredita.


– Uma mentira é consequência de uma afirmação anterior.


– O tanto que sei é nada diante daquilo que não sei.


– A lei só é boa quando aplicada ao outro.


– Abundam por aí sujeitos cujo propósito é comer, fazer m… e peidar pela boca.


– Crentes anunciam a cura gay e a ciência nos deve a cura imbecil.


– Quando a ciência deixou a hipótese deus para lá, logo se criou a mão invisível do mercado.


– O apocalipse já aconteceu, estamos na fase onde a natureza se vinga.



sábado, 30 de setembro de 2023

ah, o amor

 

Amor e Psiquê, Henryk Siemiradzki, 1894



ah, o amor

cantado, sonhado, adorado

por nós, comuns


(amor é redenção

cremos em sua religião)


foi uma vez, poeta

que o amor me conheceu

viciado ardeu e se queimou

gastou consumido

seus sentimentos

na busca da porção, última dose

e sumiu na chama breve

da sombra fria

que lhe aquece o mistério

de não aceitar objeção


ai amor,

choro pelos tolos

que passam os seus dias

a fazer amor, jamais amando


 

sábado, 2 de janeiro de 2021

catecismo

 

God, Elsa von Freytag-Loringhoven, 1917



I

penso que nasci cristão

e talvez por isto mesmo

não consigo evitar o impulso sedutor

de escalar da glória os píncaros

às custas da minha pobre

serena e pacífica

humildade


II

amor e dor moram juntos

no coração das pessoas

ali, têm gerado tantos filhos:

tristeza, mágoa, rancor, remorso…

e viveriam infelizes para sempre

não fosse se mudar pra vizinhança

um sujeito bacaninha chamado perdão


III

não existe senso de humor no paraíso

demônios

por serem escatológicos e lúbricos

são mais engraçados que anjos...

- por isto, deus odeia piadas


IV

sou budista

mas não creio na reencarnação

sou cristão

mas não acredito na ressurreição da carne

muito menos na vida eterna amém

- na minha religião sumi com a crença