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sexta-feira, 8 de março de 2024

em dia de mulher

 

A Mulher, o Homem e a Serpente, Byam Shaw, 1914


esse negócio de dizer

que mulher é uma incógnita

é papo de quem não sabe

ou não quer

agradá-la…


o orgasmo feminino

tem sido lugar de fala das lésbicas

(alegam saber fazer uma mulher “chorar”

no mínimo, umas dez vezes

numa única vez)… mas


existem homens capazes

de entendê-las e amá-las

senão o Kama Sutra

será uma obra de perversão

e não um tratado de sabedoria


a mulher nunca foi mistério

prá seu ninguém

sempre esteve aí, à flor da pele

de quem articular

um singelo

descansa tua cabecinha no meu ombro e chora”

diante da dúvida, do medo

da incerteza, da desconfiança, das cólicas…


senta pra ouvir o diário sangramento

mesmo quando não sangra, porque

a mulher sangra, caríssimo!

e quando não sangra está servindo de morada...

 

e não me venham dizer

que a mulher não tem o direito de expulsar

o indesejável ou a raiz de uma invasão agressiva…


daí quando a mulher

maternalmente

nos aplica uma rasteira

um safanão

um pescoção

uma palmada pela malcriação

choremos sem vergonha

na volta por cima

porque sem a mulher

nós, machos, cabras de peia

faríamos parte

do planetário bando de bobões,

coletivo de ninguéns

zé-manés atoa, babões sem eira nem beira

a implorar por aquele cheirinho gostoso

que nos atiça o desejo de vestir suas calcinhas


 

sábado, 6 de março de 2021

Oh, mal tão belo

 

Pandora, William-Adolphe Bouguereau, 18...




Oh, mal tão belo… quem te criou,

senão deuses ciumentos

e rancorosos

com a alegria e o bem estar dos homens?


Oh, mal tão belo…

ornada com as dádivas e as artimanhas divinas

foste destinada ao nosso meio

com a missão de espalhar mazelas

que nos atormentam desde sempre


Oh, mal tão belo…

adornada com flores primaveris,

cheirosa, irresistível, astuta,

cheia de ardis e fingimentos,

curiosa e cínica

vieste para nos atormentar a alma

e instaurar o reino do males sem fim,

onde nos sustenta apenas a frágil esperança


Oh, mal tão belo…

confundiste e enganaste nossa capacidade

de nos anteciparmos ao futuro,

de prevermos possibilidades

diante do Destino que nos assola implacável…


Oh, mal tão belo...

que corrompe e destrói nosso discernimento,

levando-nos a permanecer à deriva

neste oceano incerto que é a vida,

à mercê dos caprichos teus

e das divindades que te engendraram


Oh, mal tão belo”… disse o poeta

ao refletir sobre um dos seus infortúnios

enquanto admirava a beleza das mulheres,

que iam e vinham diante dos seus olhos

sem lhe dirigir sequer um olhar

quanto mais uma palavra (ou um gesto,

por mais insignificante que fosse),

completamente inacessíveis

aos seus membros túmidos de desejos e aflições.