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sábado, 29 de março de 2025

canção em meio ao caos

Colagem, Mister Blick, sem data


dizem por aí

em prosa e verso

após uma batalha de amor

o guerreiro vigorado

torna à guerra renomado

com redobrado ardor


eu, logo amáramos

desejo apenas dormir

no sonho fruir da poesia

(uma quadrinha que seja)

abraçar a eternidade

versejar em meio ao caos


dona, graça tal me cedes

por este amor, me enlaça

pois se me caça a guerra

apresso o verso opresso

faço da alegria bandeira 

da nossa cama trincheira


 

sábado, 26 de março de 2022

A guerra que nos vive

 

War, Marc Chagall, 1915



Partiria. Atenderia ao chamado, decidiu.

Que o esperasse, com uma torta de frango sobre a mesa, pediu e jurou, diante dos olhos tristes da mulher, que retornaria assim que o conflito terminasse.

A ela (enquanto ajudava na arrumação da mochila) ocorreu que o caos não duraria para sempre…

Até riu, e contentou-se, tudo passa, fixou!


Mas o esperado demorou…

E o tempo, implacável, se sucedeu em opressiva inutilidade.

Então, as mãos cansaram, os seios murcharam… os dentes caíram até


Numa desavisada manhã, sem que nenhum estrídulo de sirene arranhasse o ar, a própria esperança se extinguiu e o relógio cessou a vigília.


O que era vivo faleceu e o que tinha perecido insistia em viver.


Enfardado de cicatrizes e remorsos, o maltrapilho homem cruzou o vão da porta morta.

Automática, a vista perscrutou a sala fúnebre e ao sentar-se à mesa defunta sentiu que o abandono era sua única companhia.

E ali, habituado ao vazio conquistado, compreendeu que morrera no instante em que partira.


Lá fora, a guerra zurrava. 



        

sábado, 26 de fevereiro de 2022

lá vem a guerra

 

Triple Elvis, Andy Warhol, 1963



lá vem a guerra

pontual

bater outra vez

a minha porta

lá vem a guerra

com a bandeira da paz

(paz é que nem jesus:

palavras apenas

usadas em vão)


lá vem a guerra

assídua

mais uma vez bater a minha porta

exigir minha adesão

e ousa a molambenta, esculhambada

desdentada, muxibenta

irmã da fome e da miséria

falar em nome da liberdade

do dever, da responsabilidade

porque não há nada mais cívico

e patriótico que a guerra!


lá vem a guerra

rotineira e infalível…

ai de mim se digo não

à sua lengalenga

viro traidor

da pátria, dos bons costumes,

da família e da propriedade…


lá vem a guerra

indispensável

perder tudo que é nosso

em nome de uns tais princípios

que não vale para os outros…


ah, sim os outros

são sempre os outros

o lado de lá

o inimigo… range os dentes

a estridente guerra

ao mencionar

aqueles que não devemos mencionar

e fala horrores

e simula chiliques

desenterra recalques

atiça temores

e aviva rancores…


agirá assim

quando amanhã,

essa ferramenta darwiniana

a serviço do progresso dos povos

livres, leves e soltos das democracias exemplares,

for a vez de bater a porta dos outros?


lá vem a guerra

mais uma vez

impecável

indubitável

irremediável… e última.