estou agora
onde não sou
o que fui
e ainda não atingi
o que serei…
estou presente
entre uma coisa e outra
no meio gesto
no meio do gesto
narciso em feedback
meu experimento
é a escolha de seguir
modificar
ou interromper
esse fluxo… em processo
estou agora
onde não sou
o que fui
e ainda não atingi
o que serei…
estou presente
entre uma coisa e outra
no meio gesto
no meio do gesto
narciso em feedback
meu experimento
é a escolha de seguir
modificar
ou interromper
esse fluxo… em processo
abandono o passado
(essa sugestão),
e o que trouxer de abuso
faminto perscruto o futuro,
as tais coisas novas
pessoas, ideias
projetos…
a farofa e a carne seca me enchem o bucho,
a pimenta me anima
teço no presente novo figurino
descuidado
refresco a encobrir a pele
curtida em sal, sol e fúria
e exibido, passeio, aos domingos -
os pés plantados neste massapé cansado e trêmulo…
se o que não mata engorda
bebo na fonte do destempero
e sigo
degustando a carne de heróis:
sim, eu imperfeito, canibal, ainda escolho
ouvir estrelas e fazer graça pra plateia
cuspindo fora
todo sub e sobre-humano
oh, terra zoada de são saruê
senhora
mágica maravilhosa
olhos que esquecem
o dia que tudo houve
história que não serve ao poema
e tampouco vem ao caso
aos nossos sonhos melhores…
pairo feito grito acima do dilúvio
(que após tantos séculos
ainda escorre ribanceiras abaixo)...
minha goela inundada clama
por outro quebra galho
outra terra à vista – lá
donde jamais deveria ter saído,
onde eu era só amor e ponto final
(mas dado meu histórico de poeta
posso estar redondamente enganado)
não está fácil, amor…
desligue
sejamos bons em sumir
(minhas vergonhas,
meus medos
ainda dormem
depois de mim)
lembra daquele círculo traçado
na primeira vez
que nos olhamos naquela lanchonete?
tínhamos vinte e poucos anos
nem sonhávamos com a perceptiva
do rumo que seguimos
e quando nos demos conta
já havíamos dado baixa
e vestido a roupa comum
estranhamente comum
que nos acostumamos hoje
não está fácil, amor
desliguei
sou bom em sumir