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sábado, 13 de maio de 2023

despedida

 

A Despedida de Evangeline e Gabriel, John Faed, 1870


 

está contida

na ida

o retorno?

 

pede e fica

e chora

dentro e cá fora

a partida

 

o fardo no peito

incerto

é o destino

 

viver é despedir-se:

a dor de quem parte

é a mesma

de quem fica


 

sábado, 6 de maio de 2023

instante 59

 

Farewell, Remedios Varo, 1958


 

cidade ruidosa

a morada vazia ressoa

última jornada


 

sábado, 24 de dezembro de 2022

valeu, adeus

 

The Distance Between the Landscape and Dusk, Kansuke Yamamoto, 1956


sim, quero a última brisa, o último orvalho

o derradeiro canto do bem-te-vi

e o vôo rasante do rasga-mortalha…


sim, deste mundo quero a última mirada,

o último ruído e o definitivo arrepio…


(eis que, no limite, percebo

que amar é descausar desconforto

e, pacífico, recuar com um beijo)


sim, seguirei ao último instante

em busca da palavra

que legue à posteridade meu último suspiro…


(mas eis, quem sabe aconteça

ficar num hiato mudo, entre a vigília e o sono

na misteriosa passagem

onde o inverno entrega à primavera

o magnífico comando das coisas e dos nomes…)


e acaso ocorra me faltar o fôlego

para encerrar esse último e simplório ato

mesmo desbotado

ensaiarei um sorriso largo

e talvez, alcance apenas dizer: valeu

adeus!


 

sábado, 20 de março de 2021

o poeta do castelo

 

Cena do filme, 1959



belo, belo, minha bela

tenho tudo que não quero

não tenho nada que quero”…


eis, Manuel, o poeta

na mercearia a comprar leite…


o prédio onde mora

        o Bandeira

é feio e frio


a rua

        por onde ele caminha

é solitária, feia e suja


é visível a condição do poeta

- triste

não fosse a música de fundo

que o homenageia…


Manoel Bandeira, o poeta do castelo

é um filme p&b de joaquim pedro de andrade

e tal qual o protagonista

inventa uma manhã possível

        de acontecer fora da arte...

- e quem prefere viver sem arte?


mas eis que o roteirista

coloca o poeta em pijamas

e o filma na cama

porém o poeta não dorme

(quem disse que consegue)

quem disse que o sonhador precisa dormir?

Bandeira não quer dormir

Manuel, o poeta, quer sonhar… e rir

a despeito

de toda solidão, tristeza e feiura…


e é justo aqui que o poeta ergue a bandeira

e Manoel decide partir

para Pasárgada

não sem antes

comprar um jornal

despedir-se de um conhecido

e atravessar a rua

a deixar para nós

um epitáfio em letras invisíveis:

- fiquem aí com minhas graças,

que me fui,

adeus...



sábado, 23 de janeiro de 2021

despedida

 

Farewell to the Red House, Alberto Sughi, 1992



esse tempo me obriga sumir

e leva junto a inspiração

o desejo, a vontade de sair, passear, olhar o mundo...

enquanto depressa me aparecem cabelos brancos

cresce a barriga 

inchaços aparecem

e dores, manias, cansaços e novatos medos…


ultimamente

(difícil sumir a sensação de que tudo é em vão)

tenho vivido de olhar

   entre quatro paredes

o que fiz de melhor

a tentar me convencer de que vali a pena


mas não estranhem: é que alcancei o instante 42

    aqui onde tenho resposta para tudo

e ao fazer das tripas coração,

me exercito na inventada expectativa

de alcançar seja o que houver além do hexagrama 64


ainda labuto… devagar, pequeno e fraco

e aguardo que a vida

(antes que algo se revele)

não se transforme numa enfadonha despedida