sábado, 24 de dezembro de 2022

valeu, adeus

 

The Distance Between the Landscape and Dusk, Kansuke Yamamoto, 1956


sim, quero a última brisa, o último orvalho

o derradeiro canto do bem-te-vi

e o vôo rasante do rasga-mortalha…


sim, deste mundo quero a última mirada,

o último ruído e o definitivo arrepio…


(eis que, no limite, percebo

que amar é descausar desconforto

e, pacífico, recuar com um beijo)


sim, seguirei ao último instante

em busca da palavra

que legue à posteridade meu último suspiro…


(mas eis, quem sabe aconteça

ficar num hiato mudo, entre a vigília e o sono

na misteriosa passagem

onde o inverno entrega à primavera

o magnífico comando das coisas e dos nomes…)


e acaso ocorra me faltar o fôlego

para encerrar esse último e simplório ato

mesmo desbotado

ensaiarei um sorriso largo

e talvez, alcance apenas dizer: valeu

adeus!


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário