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sábado, 8 de novembro de 2025

Quando foi a última vez que você?...

 

Google Gemini




- Tomou um banho de mar

- Sentou debaixo de uma cachoeira

- Conversou com um estranho

- Andou descalço na grama

- Deitou na areia do mar

- Escreveu um poema para um filho

- Prestou atenção no canto dos pássaros

- Contemplou o luar

- Bateu papo com uma criança

- Conversou com uma flor

- Cantarolou uma canção no banho

- Apreciou a alvorada

- Aplaudiu um crespúsculo

- Abraçou uma árvore

- Ficou tocado ao ler um livro

- Sentiu o cheiro de terra molhada

- Chorou na exibição de um filme

- Sentou sob a sombra de uma árvore

- Olhou para céu numa noite estrelada

- Fez perguntas e não aguardou respostas...

- Quando foi a última vez que você olhou à sua volta, não criticou nem corrigiu nada, pelo contrário, sentiu-se familiar a tudo e riu um sorriso tímido, mesmo que de canto de boca para ninguém estranhar a sua felicidade e guardar pra si a sensação de estar de bem com o universo, com o mundo e consigo mesmo?


 

sábado, 26 de abril de 2025

Dimensões

 

Old Man in Sorrow, Vicent van Gogh, 1890


Naquela noite, o velho senhor deitou-se mais cedo. Logo acercou-se uma voz íntima que chorava.

O velho quis interrogá-la, saber sua história mas, a voz não dizia, não falava… Só chorava. “O que esconde este choro”, pensou.

E antes que entrasse no sono, sem que arredasse o corpo de cima da própria cama, andou e andou, atravessou oceanos, escalou montanhas, desceu através de vales e só então percebeu que era de seus lábios que nascia a voz que chorava. Fora, o vento ensaiava seu uivo – mas era o choro interior que o preocupava.

Decidido a dormir, o velho senhor, naquela noite conseguiu alcançar sono profundo, mas sem sonho ouviu a voz, ouviu o choro que vinha de si mesmo.

Rajadas de vento açoitavam a janela nervosa, obrigando-o a abrir os olhos e, sem mover um músculo, viu uma criança – pequena, frágil, envolta em lágrimas e luz – emergir da escuridão tempestuosa. Suas mãos calejadas, com candura, a apanharam tal qual a um pássaro ferido. Aconchegados um ao outro, gemeram e perceberam a dor de existir. A dor é o próprio existir. Porém seus olhos de criança não mais choravam mas despertaram no quarto um singelo acalanto acompanhado pelo vento que zunia.

E o velho habitou a voz

E a voz habitava o mundo

E o velho era o mundo

E o mundo era dor

E o mundo era velho

E o velho viu

Que além da dor

do medo

da noite

da janela que estremecia

Entre o gemido e o vento

Havia-lhe nascido

Um poema de silêncio e asas

O velho enfim sorriu

e dormiu tal qual

quem nunca chorara antes.



sábado, 11 de janeiro de 2025

Uma história, três narrativas

Velho Triste no Portão da Eternidade, Vicent Van Gogh, 1890


1.

E naquela noite, o velho senhor deitou-se mais cedo.

E logo acercou-se uma voz íntima que chorava.

O velho quis interrogá-la, saber sua história mas, a voz não dizia, não falava… Só chorava.

O velho sentiu que deveria descobrir o que aquele choro escondia.

Acostumado, andou e andou… Atravessou oceanos, escalou montanhas, desceu através de vales e, para seu espanto, jamais saiu de diante da sua própria cama… E só então pode perceber que era de seus lábios que nascia aquela voz que chorava.


2.

Decidido a dormir, o velho senhor, naquela noite tapou os ouvidos e conseguiu alcançar um sono profundo.

E naquela condição sem sonho ouviu a voz, ouviu o choro que vinha do fundo de si mesmo.

E sem que fizesse qualquer movimento viu uma criança que nascia.

Aparou-a com suas mãos, aconchegou-a em seus braços e percebeu que ambos gemiam e souberam ali, sem que ninguém lhes dissessem, que a dor é a condição de existir. A dor é o próprio existir. E, seus olhos de criança despertaram num alegre acalanto.


3.

E o velho habitou a voz

E a voz habitava o mundo

E o velho era o mundo

E o mundo era dor

E o mundo era velho

E viu que além da dor

Além do medo

Além da noite

Havia-lhe nascido

Um poema…

O velho enfim sorriu

Qual nunca chorara antes.


 

sábado, 23 de outubro de 2021

a vida é bela

 

Young Girl and Child, William-Adolphe Bouguereau, 1869



minha filha do meio me liga
– quer conversar -
algo lhe machuca o peito...

 

eu, que cedo
fui entregar urina de 24 horas para exame
voltei, no ônibus,
na companhia de uma criança
que aliviou os minutos tediosos
do transporte público:
uma coisinha frágil e enérgica
e esta contradição me levava a desviar o olhar
toda vez que ela tentava contato
por temor de me deixar cativar

fazer-lhes umas gracinhas, brincar talvez 

é que me afastava o incômodo da mãe

que a controlava e corrigia a todo instante

como se a pobre pequena tivesse qualquer domínio
sobre a surpresa de lhe ocorrer
a todo instante
estar simplesmente viva

 

– queria eu ter aquele olhar
suficiente para iluminar o mundo
e fazer de conta que a humanidade tem jeito!

 

minha filha do meio, finalmente, marca uma hora
– aguardo ansioso…
e já que ela confia em mim para desabafar
penso em convidá-la para um passeio no fim de semana:
talvez um filme, uma exposição…
a gente consegue entender melhor as coisas
quando gastamos sola de sapato
até ali onde saboreamos esfihas, pastéis e quibes
(a vida é complicadamente bela)
assediados por outras tantas contradições,
possibilidades e senões…

a liberdade consiste nisto:
ter olhos dóceis para enxergar o mundo
e saber se esquivar das armadilhas
humanas…