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sábado, 29 de março de 2025

canção em meio ao caos

Colagem, Mister Blick, sem data


dizem por aí

em prosa e verso

após uma batalha de amor

o guerreiro vigorado

torna à guerra renomado

com redobrado ardor


eu, logo amáramos

desejo apenas dormir

no sonho fruir da poesia

(uma quadrinha que seja)

abraçar a eternidade

versejar em meio ao caos


dona, graça tal me cedes

por este amor, me enlaça

pois se me caça a guerra

apresso o verso opresso

faço da alegria bandeira 

da nossa cama trincheira


 

sábado, 22 de fevereiro de 2025

era uma vez

 

Odalisque, Guillarme Seignac, 1900


a muito tempo atrás

(quando os pulmões do mundo

respiravam o ar estreito da juventude

e os meus colegas de colégio pareciam

teimosos pássaros a sobrevoarem um tempo

cheios de asas de alegria, entusiasmo -

tirando o pior que rugia lá fora -

esperanças, bonitezas e perspectivas)

eu acordava, corria pro banho,

sob luz fria da madrugada,

escovar os dentes, tomar banho

e voltar correndo

pra escolher a roupa cansada de todo dia,

tomar café com leite, pão e manteiga

crente no ônibus pontual

que me levaria para 9 horas de trabalho

de segunda a sexta-feira…

(às vezes aos sábados ou domingos

meu chefe nos convocava pro balanço

e lá íamos engaiolados, na kombi da firma,

contabilizar os detalhes e sobras

da velha fábrica de percaline…)


ó tempo que não passava!

pois nada sabia, apenas intuía

o anormal que me acostumara

às ordens imperiosas da mãe-pátria,

a quem eu devia amar ou deixar,

(obedecer era tudo!)

e lá ia com fome, com sono

esperar o carnaval chegar,

cumprir a regra geral…

e até casei, de papel passado,

com o lar doce lar

e fui dormir no cabaré

à procura daquele amor

que tatuou cicatrizes em minh’alma

e apertou minha mão no velho cinema

diante das imagens do príncipe valente…

mas quem era eu pra sustentar

aquela mulher da vida, zélia linda,

última flor do lácio,

a me arrastar à poesia,

a rebobinar memórias,

último refúgio que alimenta,

tal qual numa fita de Fellini,

o seio túrgido da paixão


 

sábado, 30 de novembro de 2024

velhas amizades

 

Retrato do Dr.Gachet, Vicente van Gogh, 1890


 … existiu uma

a quem dediquei poemas

e plenamente embriagado

partilhei a ilha desconhecida


mas, lembro,

vez por outra, doutras

de quem, farsante

sujo de promessas, 

fugi


hoje, longe do vício

resgato

velhas amizades


 


sábado, 21 de setembro de 2024

ensaio de amor

 

Até a próxima, Remédios Varo, 1958


o amor é que nem felicidade

ocorre por instantes…

 

me desespere o dia inteiro, baby

a veneta ondula em mim


se amar é sentir saudade

(nem pense em programar o fado)

haverá hora que diremos um ao outro

grato, pelo amor, meu amor

pelas nossas minúsculas eternidades...

 

e na despedida

riremos de toda imprudência impaciente


se amar é ser inédito

original

a canção marinheira

essa ressaca

é súbita festa vinda



sexta-feira, 8 de março de 2024

em dia de mulher

 

A Mulher, o Homem e a Serpente, Byam Shaw, 1914


esse negócio de dizer

que mulher é uma incógnita

é papo de quem não sabe

ou não quer

agradá-la…


o orgasmo feminino

tem sido lugar de fala das lésbicas

(alegam saber fazer uma mulher “chorar”

no mínimo, umas dez vezes

numa única vez)… mas


existem homens capazes

de entendê-las e amá-las

senão o Kama Sutra

será uma obra de perversão

e não um tratado de sabedoria


a mulher nunca foi mistério

prá seu ninguém

sempre esteve aí, à flor da pele

de quem articular

um singelo

descansa tua cabecinha no meu ombro e chora”

diante da dúvida, do medo

da incerteza, da desconfiança, das cólicas…


senta pra ouvir o diário sangramento

mesmo quando não sangra, porque

a mulher sangra, caríssimo!

e quando não sangra está servindo de morada...

 

e não me venham dizer

que a mulher não tem o direito de expulsar

o indesejável ou a raiz de uma invasão agressiva…


daí quando a mulher

maternalmente

nos aplica uma rasteira

um safanão

um pescoção

uma palmada pela malcriação

choremos sem vergonha

na volta por cima

porque sem a mulher

nós, machos, cabras de peia

faríamos parte

do planetário bando de bobões,

coletivo de ninguéns

zé-manés atoa, babões sem eira nem beira

a implorar por aquele cheirinho gostoso

que nos atiça o desejo de vestir suas calcinhas


 

sábado, 28 de outubro de 2023

pequena crônica

 

For the love potion, Mikhail Nesterov, 1888


seja de boa, conte histórias

evite frases de efeito

discorde concordando

pratique um instrumento

a vida é um moinho, tu és semente

(já ouvi dizer que é inspirador viver num jardim de espinhos)

seus segredos são seus, os segredos dela são dela

se fores sozinho a maracangalha, melhor que tragas um oceano

se entregue, morra, mas ressuscite na hora H e se nada disso der certo, a culpa é dos poetas...



sábado, 7 de outubro de 2023

pode ser?

 

Acima da Cidade, Marc Chagall, 1918



hoje, a cidade amanheceu calma:

maré baixa, piscinas cristalinas

peixinhos, pedras e ouriços…

não ouvi sirenes

a anunciarem desconfortos e desgraças


aproveitei pra sonhar

o que mais quero neste intervalo:

te amar diante da janela

ao som inexorável do martelete buf buf

no concreto da casa ao lado

a pontuar o tesão e as batidas

dos nossos doloridos corações


vem, amor

que não há quem nos proteja

de tamanho caos


morramos soterrados pelo engenho

dos fabrishomens barulhentos

e ressuscitemos no silêncio inventado,

momentâneo

de nossas almas saciadas

alheios à cidade,

ao desejo e aos aplausos


vem amor,

que este tantinho de generosidade

faz a desdita nos esquecer…


vem, que deslembro das queixas

dos remorsos, segredos, mimos, dengos

calundus, manhas e caprichos -

trejeitos que herdei do meu pai

(fraco, topado de orgulho)

sempre pronto a revidar… vem, amor

amanhã pode não ser


 

sábado, 30 de setembro de 2023

ah, o amor

 

Amor e Psiquê, Henryk Siemiradzki, 1894



ah, o amor

cantado, sonhado, adorado

por nós, comuns


(amor é redenção

cremos em sua religião)


foi uma vez, poeta

que o amor me conheceu

viciado ardeu e se queimou

gastou consumido

seus sentimentos

na busca da porção, última dose

e sumiu na chama breve

da sombra fria

que lhe aquece o mistério

de não aceitar objeção


ai amor,

choro pelos tolos

que passam os seus dias

a fazer amor, jamais amando


 

sábado, 15 de julho de 2023

amor de verdade

 

Na Cama, O Beijo, Henri de Toulouse-Lautrec, 1892

 

tesão tive, paixões algumas

mas amor de verdade

tem escapado

que chego a duvidar dos poemas que fazia

no meu tempo de escola...

 

o amor me visita

em noites de ausências

e me conduz à ilha

que inventei no fundo do seu mar

 

... revivo aquele beijo

diante do nirvana (imaginado logo ali), 

fogo fátuo que inundou a chama

e refletiu na inocente lua

o farol da nossa noite nua a repetir:

amor de verdade é pra sempre

mesmo que efêmero


 

sábado, 10 de junho de 2023

amor no ar


O beijo, Gustav Klimt, 1908



flagrei, na praia, um casal de pombos

a arrulharem desejos

entre uma bicada e outra


se escrevesse

"dois pombinhos se pegam na praia"

longe de ser uma manchete sensacionalista

seria uma homenagem à sincronicidade

pois, a dois passos de mim

coincidentemente

um casal de pombinhos

entre um amasso e outro

bicavam uma cerveja




sábado, 5 de novembro de 2022

sobre o amor

 

Cupid and Psyque, Edvard Munch, 1907


o amor é um mistério

escondido detrás de palavras

versos, frases de efeitos


ah, quantas vezes

me perdi em seus labirintos

e fiquei mudo

diante da essencial timidez do amor

(ousada é a paixão)


amado/amante

dizei pouco do amor

por pudor, falai quase nada

daquilo que vos confunde… eu sei!


é preciso sentir o amor

além do desejo (essa quimera)

e permitir que renasça

finda a fértil primavera


amei pouco, tantinho…

quem sabe um dia aceite

do amor todos os espinhos


 

sábado, 20 de agosto de 2022

gastura

 

Finger Snack, Christian Ludwig Attersee, 1965


ontem sonhei com fulana:

danado é que

não lembro mais da sua aparência

faz tanto tempo desde

qu’eu ficava horas

ouvindo sua voz

mansa

a dizer coisas

que me bagunçavam por dentro

sem saber como dizer não…


ontem, pra variar

ela cuidou de esfregar

os dedos dos pés

carinhosamente

no meu rosto

que de tão íntimos

desculpei o cheiro acre

que exalava dos seus dedinhos…


fulana sempre me tratou bem

verdade,

mas o drama

é que eu passei o sono inteiro

temendo ser flagrado

acariciando aqueles pezinhos bofedidos,

que acordei exausto com o esforço que fiz

para o marido dela não dar as caras no sonho.


 

sábado, 2 de julho de 2022

Composição 4

 

Composition VIII, Wassily Kandinsky, 1923



(Viver imerso na real

De olho naquilo que é fake)

O amor disse ontem que me ama.


Probidade não se jura

Tendo o mundo na vitrine

Nosso afeto que ilumine

A potência da ternura


 

sábado, 19 de março de 2022

era uma vez quando me fizeste feliz

 

The Dream, Henri Rousseau, 1910




aguarde amor que volto ali ao sonho

para seguir adiante dos fantasmas

a enfrentar meu mais profundo medo…


devo alcançar sejas tu quem sejas

 - brinquemos juntos

e que rias de mim

que rias comigo, que fujas

que não facilites, que não cedas

à minha ansiedade, minha despreparo

meu despropósito…


ah, o desafio de vir a ser…


se acaso, por bondade

(quem sabe prazer ou petulância)

vieres a me ofertar o teu amor

que seja por descompromisso

(amanhã não saberei de mim, quanto menos de nós)

e mesmo que digas espero te ver outra vez

sei da impossibilidade de um castelo

que te guarde à minha espera…

por isto, eis que parto, pois é preciso que eu parta

a carregar esta ilusão – tua lembrança, este sonho...

 

me resta presente

fazer o caminho de volta

a ti, que me deste um momento

 instante feliz

e no caminho, insisto: que tal 

entre tantos poemas possíveis, reviver amor?!


 

sábado, 12 de fevereiro de 2022

amor e alma

 

Love and Psyche, Henrik Siemiradzki, 1894




o amor nada tem de silencioso

senhor

o amor é ruidoso

qual sinfonia do amanhecer

onde a natureza

e o engenho humano,

celebram o milagre da vida…


o amor é barulhento, nervoso

diga-nos o amante,

incontido,

que quer que todos saibam

da sua alegria e prazer

quando a paixão começa

e do seu desespero e mágoa

assim que o amor acaba


diante dessa travessa divindade

apenas os descrentes,

ignorantes da agonia gozosa da vida,

silenciam – tão pobres e frios,

insensíveis à centelha

que faz arder desígnios buliçosos

em nossa decantada alma



sábado, 1 de janeiro de 2022

controverso

 

Palhaço Insano, Banksy, 2001




ô lindinha…

por mais que te ame

(e me ocorre amar-te tanto)

difícil trazer à tona

aquilo que protejo

do meu desatino


se

a tempos destruí

o castelo de cartas que nos abrigou,

difícil desisti tão fácil

de mendigar as migalhas que restam

de um amor outrora promissor


mas, por favor, não me coloques à prova

não me humilhes

que imaturo choro

e me acabo no ciúme -

esse patíbulo dos insanos


ontem quis te esquecer

hoje fiz de tudo

para não me punir… e doeu.



sábado, 25 de dezembro de 2021

instante 44

 

Seaside, Kristoffer Zetterstrand, 2005



não me sinto mais aqui

parte de mim já partiu


o chão sob os meus pés

ondula macio, mergulho

para não incomodar o silêncio


me vou:

adiante, a ilha

(devo nascer ainda lá

embora quase não exista mais aqui)


sigo onde me aguarda

o caminho que esqueci


- preciso recordar

o amor que descobri


 

sábado, 15 de maio de 2021

segredos gozosos III

 

Os Amantes, Rene Magritte, 1928




- sob o luar

tua mão e tua boca

estremecem o céu


- a chama

na ponta dos dedos:

na língua a recusa

do verso final


- o êxtase beija a rosa

afogado num vulcão

eis que o amor vira fome


- a rosa de pétalas doces

esqueceu dos espinhos e gemeu

sob o aroma de mil jardins


- trêmulas, mãos adormecem

entre canteiros de plânctons

que sacralizam aquela alcova



sábado, 8 de maio de 2021

segredos gozosos II

 

King Pleasure, Jean-Michel Basquiat, 1987




- o beijo não devora:

apenas alcança

as bordas do arrepio


- após um banho de mar

o sal eriça a alma:

minha língua em teu corpo


- que teus seios me tirem o ar

pois hei de ressuscitar

na cava do teu umbigo


que ciências, aventuras

e mistérios te ensinaram

cavalgar, amazona?


- viro chuva e orvalho

na tua flor de laranjeira...

sereno, inundo tua varanda

sob o ciumento olho do luar