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sábado, 5 de novembro de 2022

sobre o amor

 

Cupid and Psyque, Edvard Munch, 1907


o amor é um mistério

escondido detrás de palavras

versos, frases de efeitos


ah, quantas vezes

me perdi em seus labirintos

e fiquei mudo

diante da essencial timidez do amor

(ousada é a paixão)


amado/amante

dizei pouco do amor

por pudor, falai quase nada

daquilo que vos confunde… eu sei!


é preciso sentir o amor

além do desejo (essa quimera)

e permitir que renasça

finda a fértil primavera


amei pouco, tantinho…

quem sabe um dia aceite

do amor todos os espinhos


 

sábado, 20 de agosto de 2022

gastura

 

Finger Snack, Christian Ludwig Attersee, 1965


ontem sonhei com fulana:

danado é que

não lembro mais da sua aparência

faz tanto tempo desde

qu’eu ficava horas

ouvindo sua voz

mansa

a dizer coisas

que me bagunçavam por dentro

sem saber como dizer não…


ontem, pra variar

ela cuidou de esfregar

os dedos dos pés

carinhosamente

no meu rosto

que de tão íntimos

desculpei o cheiro acre

que exalava dos seus dedinhos…


fulana sempre me tratou bem

verdade,

mas o drama

é que eu passei o sono inteiro

temendo ser flagrado

acariciando aqueles pezinhos bofedidos,

que acordei exausto com o esforço que fiz

para o marido dela não dar as caras no sonho.


 

sábado, 2 de julho de 2022

Composição 4

 

Composition VIII, Wassily Kandinsky, 1923



(Viver imerso na real

De olho naquilo que é fake)

O amor disse ontem que me ama.


Probidade não se jura

Tendo o mundo na vitrine

Nosso afeto que ilumine

A potência da ternura


 

sábado, 19 de março de 2022

era uma vez quando me fizeste feliz

 

The Dream, Henri Rousseau, 1910




aguarde amor que volto ali ao sonho

para seguir adiante dos fantasmas

a enfrentar meu mais profundo medo…


devo alcançar sejas tu quem sejas

 - brinquemos juntos

e que rias de mim

que rias comigo, que fujas

que não facilites, que não cedas

à minha ansiedade, minha despreparo

meu despropósito…


ah, o desafio de vir a ser…


se acaso, por bondade

(quem sabe prazer ou petulância)

vieres a me ofertar o teu amor

que seja por descompromisso

(amanhã não saberei de mim, quanto menos de nós)

e mesmo que digas espero te ver outra vez

sei da impossibilidade de um castelo

que te guarde à minha espera…

por isto, eis que parto, pois é preciso que eu parta

a carregar esta ilusão – tua lembrança, este sonho...

 

me resta presente

fazer o caminho de volta

a ti, que me deste um momento

 instante feliz

e no caminho, insisto: que tal 

entre tantos poemas possíveis, reviver amor?!


 

sábado, 12 de fevereiro de 2022

amor e alma

 

Love and Psyche, Henrik Siemiradzki, 1894




o amor nada tem de silencioso

senhor

o amor é ruidoso

qual sinfonia do amanhecer

onde a natureza

e o engenho humano,

celebram o milagre da vida…


o amor é barulhento, nervoso

diga-nos o amante,

incontido,

que quer que todos saibam

da sua alegria e prazer

quando a paixão começa

e do seu desespero e mágoa

assim que o amor acaba


diante dessa travessa divindade

apenas os descrentes,

ignorantes da agonia gozosa da vida,

silenciam – tão pobres e frios,

insensíveis à centelha

que faz arder desígnios buliçosos

em nossa decantada alma



sábado, 1 de janeiro de 2022

controverso

 

Palhaço Insano, Banksy, 2001




ô lindinha…

por mais que te ame

(e me ocorre amar-te tanto)

difícil trazer à tona

aquilo que protejo

do meu desatino


se

a tempos destruí

o castelo de cartas que nos abrigou,

difícil desisti tão fácil

de mendigar as migalhas que restam

de um amor outrora promissor


mas, por favor, não me coloques à prova

não me humilhes

que imaturo choro

e me acabo no ciúme -

esse patíbulo dos insanos


ontem quis te esquecer

hoje fiz de tudo

para não me punir… e doeu.



sábado, 25 de dezembro de 2021

instante 44

 

Seaside, Kristoffer Zetterstrand, 2005



não me sinto mais aqui

parte de mim já partiu


o chão sob os meus pés

ondula macio, mergulho

para não incomodar o silêncio


me vou:

adiante, a ilha

(devo nascer ainda lá

embora quase não exista mais aqui)


sigo onde me aguarda

o caminho que esqueci


- preciso recordar

o amor que descobri


 

sábado, 15 de maio de 2021

segredos gozosos III

 

Os Amantes, Rene Magritte, 1928




- sob o luar

tua mão e tua boca

estremecem o céu


- a chama

na ponta dos dedos:

na língua a recusa

do verso final


- o êxtase beija a rosa

afogado num vulcão

eis que o amor vira fome


- a rosa de pétalas doces

esqueceu dos espinhos e gemeu

sob o aroma de mil jardins


- trêmulas, mãos adormecem

entre canteiros de plânctons

que sacralizam aquela alcova



sábado, 8 de maio de 2021

segredos gozosos II

 

King Pleasure, Jean-Michel Basquiat, 1987




- o beijo não devora:

apenas alcança

as bordas do arrepio


- após um banho de mar

o sal eriça a alma:

minha língua em teu corpo


- que teus seios me tirem o ar

pois hei de ressuscitar

na cava do teu umbigo


que ciências, aventuras

e mistérios te ensinaram

cavalgar, amazona?


- viro chuva e orvalho

na tua flor de laranjeira...

sereno, inundo tua varanda

sob o ciumento olho do luar



sábado, 1 de maio de 2021

segredos gozosos I

 

The Pleasure Principle, Rene Magritte, 1937


- a chama que me acende

é tua lembrança perene:

asas roçadas do desejo


- um anjo torto

me ensinou a rezar

tal qual um gozo


- na taça do teu umbigo

sorvo o vinho que me inicia

nos mistérios da criação


- mais tesão:

no teu corpo molhado

um vestido nu


- tuas coxas sob o vestido

na foto proclamam

meu desespero...



sábado, 19 de dezembro de 2020

reticências de amor perfeito

 

Bouquet with flying lovers, Marc Chagall, 1947




o sol descansou

estrelas desabrocharam

hora do beija-flor…


chegou refém de roupas cansadas

enquanto ela ainda botava as crianças para dormir


banhou-se de jasmim… vestiu

o sarongue que ganhara no natal

e foi saudar os frutos da estação

expostos na esteira no centro da sala


em meio aos cochichos dele, ela sussurrou:

- (ah, teu cheiro)… perfumei…

(cabocla) meus lábios… (lótus)…

doces de pimenta… (meu jardim)...

espera… o luar suplica uma dança na varanda


na ilha encantada

existem dias

e muitas madrugadas a percorrer

corpos

e este poema a descobrir trilhas...


é apenas vida,

uma promessa a se cumprir…