Odalisque, Guillarme Seignac, 1900
a
muito tempo atrás
(quando
os pulmões do mundo
respiravam
o ar estreito da juventude
e
os meus colegas de colégio pareciam
teimosos
pássaros a sobrevoarem um tempo
cheios
de asas de alegria, entusiasmo -
tirando
o pior que rugia lá fora -
esperanças,
bonitezas e perspectivas)
eu
acordava, corria pro banho,
sob
luz fria da madrugada,
escovar
os dentes, tomar banho
e
voltar correndo
pra
escolher a roupa cansada de todo dia,
tomar
café com leite, pão e manteiga
crente
no ônibus pontual
que
me levaria para 9 horas de trabalho
de
segunda a sexta-feira…
(às
vezes aos sábados ou domingos
meu
chefe nos convocava pro balanço
e
lá íamos engaiolados, na kombi da firma,
contabilizar
os detalhes e sobras
da
velha fábrica de percaline…)
ó
tempo que não passava!
pois
nada sabia, apenas intuía
o
anormal
que
me
acostumara
às
ordens imperiosas da mãe-pátria,
a
quem eu devia amar ou deixar,
(obedecer
era tudo!)
e
lá ia com fome, com sono
esperar
o carnaval chegar,
cumprir
a regra geral…
e
até casei, de papel passado,
com
o lar doce lar
e
fui dormir no cabaré
à
procura daquele amor
que
tatuou cicatrizes em minh’alma
e
apertou minha mão no velho cinema
diante
das imagens do príncipe valente…
mas
quem era eu pra sustentar
aquela
mulher da vida, zélia linda,
última
flor do lácio,
a
me arrastar à poesia,
a
rebobinar memórias,
último
refúgio que alimenta,
tal
qual numa fita de Fellini,
o
seio túrgido da paixão